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Homenageadas

Auta de Souza

Auta de Souza

“Auta de Souza (Macaíba12 de setembro de 1876 — Natal7 de fevereiro de 1901) foi uma poetisa brasileira da segunda geração romântica (ultrarromânticabyroniana ou Mal do Século), autora de Horto.

Escrevia poemas românticos com alguma influência simbolista, e de alto valor estético. Segundo Luís da Câmara Cascudo, é "a maior poetisa mística do Brasil".

Aos dezoito anos, passou a colaborar com a revista Oásis, e aos vinte escrevia para A República, jornal de maior circulação e que lhe deu visibilidade para a imprensa de outras regiões. Seus poemas foram publicados no jornal O Paiz, do Rio de Janeiro. No ano seguinte, passaria a escrever assiduamente para o prestigiado jornal A Tribuna, de Natal, e seus versos eram publicados junto aos de vários escritores famosos do Nordeste. Entre 1899 e 1900, assinou seus poemas com os pseudônimos de Ida Salúcio e Hilário das Neves, prática comum à época.

Também foi publicada nos jornais A Gazetinha, de Recife, e no jornal religioso Oito de Setembro, de Natal, e na Revista do Rio Grande do Norte, onde era a única mulher entre os colaboradores.

Venceu a resistência dos círculos literários masculinos e escrevia profissionalmente em uma sociedade em que este ofício era quase que exclusividade dos homens, já que a crítica ignorava as mulheres escritoras. Sua poesia passou a circular nas rodas literárias de todo o país, despertando grande interesse. Tornou-se a poetisa norte-rio-grandense mais conhecida fora do estado”.

Carlos Emílio

Carlos Emílio

Carlos Emílio Corrêa Lima nasceu em Fortaleza, Ceará, Brasil, em 1956. 

Tem oito livros publicados. E um livro de contos inéditos, As Cantoras da Levitação.

Os éditos até agora são: Solário – Contos infantis para adultos, escrito em 1970, quando o autor tinha menos de 14 anos; o romance A Cachoeira das Eras – A Coluna de Clara Sarabanda (1979); o romance Além, Jericoacoara – O Observador do Litoral (1982), livro que revelou a paisagem da praia do Nordeste brasileiro; Ofos (contos, 1984), livro que teve um dos seus contos, O Barco, adaptado para um longa-metragem homônimo do cineasta Petrus Cariry; o romance Pedaços da História mais Longe (1997); o livro-ensaio Virgílio Várzea: os olhos de paisagem do cineasta do Parnaso(2002), obra que recupera de volta o gênero literário paisagem; o livro de contos O Romance que Explodiu (2006) e o romance Maria do Monte: o romance inédito de Jorge Amado (2008), que está sendo lançado em Portugal  este ano de 2018 com excelente repercussão. Também é crítico literário, tendo publicado resenhas nos jornais O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, O Povo e Diário do Nordeste e nas revistas Visão, Isto é   como também algumas reportagens poéticas em revistas de turismo. Foi correspondente no Brasil da revista de literatura e artes espanhola El Passeante onde publicou a primeira entrevista que o poeta Manoel de Barros aceitou realizar, num número especial que organizou sobre a literatura e a fotografia brasileira em 1988.Foi o principal colaborador nordestino do lendário Portal paulista de Literatura e artes Cronópios. Também é ativista cultural e curador literário, tendo organizado e fundado inúmeros eventos de poesia tais como o CEP 20000, Centro de Experimentação poética do Rio de Janeiro (agosto de 1990), as Rodas de Poesia e Percussão (agosto de 1999-agosto de 2000), as ZPLs, Zonas Poéticas Liberadas. (2003 a 2008). Também é editor, tendo fundado e dirigido inúmeras revistas literárias e jornais periódicos de literatura tais como O Saco Cultural, de circulação nacional(Fortaleza,1976-1977), A revista Siriará (Fortaleza, em 1980, número único histórico), a revista Nação Cariri (Fortaleza,1978-1980) a Revista Cadernos RioArte (RJ, décadas de 1980 e de 1990), o Jornal Letras&Artes (RJ, década de 1980 e 1990), a revista de literatura e artes triangularizada Arraia Pajéurbe (CE, 2000,2002,20003,2012). Organizou e editou com o pseudônimo de Conglomerado Magnético a antologia Massanova, que reúne praticamente todos os novos nomes da nova poesia cearense da segunda década do século XXI. Também, como professor universitário na Universidade Gama Filho, em Fortaleza, no Curso de Artes Plásticas criou uma "transdisciplina" totalmente inovadora que interseminava literatura, poesia, artes plásticas, heteronimias e perfomance ajudando a formar os mais inventivos artistas plásticos pós-modernos e pós-pós-modernos cearenses do princípio do século XXI. É, às e muitas vezes, poeta de versos com livros já escritos mais ainda inéditos. Gosta de diagramentar e de filmar sem câmeras, isto é, escrever.  

Cátia de França

Cátia de França

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Cátia de França (João Pessoa13 de fevereiro de 1947) é uma cantora e compositora brasileira. Sua música tem como fonte a literatura, fazendo referências à obra de Guimarães RosaJosé Lins do RegoManoel de Barros, além do citado João Cabral de Melo Neto.

Na década de 60, a cantora participou de festivais de música popular, época em que viajou à Europa com um grupo folclórico do qual participava. De volta ao Brasil, foi para o Rio de Janeiro, onde contatou outros músicos nordestinos, como Zé RamalhoElba RamalhoAmelinha e Sivuca. Mais tarde, foi parceira de palco de Jackson do Pandeiro durante a primeira versão do Projeto Pixinguinha, em 1980.

O primeiro LP solo, 20 Palavras ao Redor do Sol, foi lançado em 1979, com músicas compostas com base em poemas de João Cabral de Melo Neto. Uma música da cantora foi trilha sonora do filme Cristais de Sangue, de 1975. Em cerca de 40 anos de carreira, Cátia gravou três LPs: Vinte Palavras ao Redor do Sol, Estilhaços e Feliz Demais, e dois CDs: Avatar (com participações de Chico César e Xangai ) e Cátia de França canta Pedro Osmar, no qual ela demonstra a força criativa da música paraibana.

Cátia também adentrou pelo mundo da literatura e das artes plásticas, com destaque para os livros Zumbi em Cordel, Falando de Natureza Naturalmente (infantil) e Manual da Sobrevivência, um resgate de sua trajetória pessoal e profissional.

 

Discografia

  • 1979 - 20 Palavras ao redor do Sol (Epic/CBS)

  • 1980 - Estilhaços (Epic/CBS)

  • 1986 - Feliz demais (Produção independente distribuido pela Continental)

  • 1996 - Avatar (Acacia)

  • 2016 - "Hóspede da Natureza". Este novo trabalho foi coroado com shows lotados em diversas cidades brasileiras.

Chico César

Chico César

Chico César nasceu no município de Catolé do Rocha, interior da Paraíba, e aos dezesseis anos mudou-se para João Pessoa. Formou-se em jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba. Na época da universidade, entrou para o grupo Jaguaribe Carne, onde fazia poesia de vanguarda. Pouco depois, aos 21, mudou-se para São Paulo. Trabalhando como jornalista e revisor de textos da Editora Abril, aperfeiçoou-se em violão, multiplicou as composições e formou seu público. Sua carreira artística tem repercussão internacional. A maioria de suas canções são poesias de alto poder de encanto linguístico. Em 1991, foi convidado para fazer uma turnê pela Alemanha, e o sucesso o animou a deixar o jornalismo para dedicar-se somente à música. Formou a banda Cuscuz Clã e passou a apresentar-se na casa noturna paulistana Blen Blen Club. Em 1995 lançou seu primeiro disco Aos Vivos e seu primeiro livro Cantáteis, cantos elegíacos de amizade (ed. Garamond). Tornou-se nacional e internacionalmente conhecido em 1996 pela canção "Mama África".O videoclip da música ganhou o prêmio de "Melhor Videoclipe de MPB" no MTV Video Music Brasil (VMB) de 1997 e é considerado um dos marcos da MTV BrasilEm 2007 participou do filme Paraíba, Meu Amor, do cineasta suíço Jean Robert-Charrue, cuja música tema é de sua autoria.  Chico César tomou posse na presidência da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) em maio de 2009. De janeiro 2011 a dezembro de 2014 foi Secretário de Cultura do estado da Paraíba. Atualmente, vive cantando nos palcos da vida

 

PREMIADÍSSIMO:

1996: Ganhou o prêmio de Revelação Regional no Prêmio Sharp pelo álbum Cuzcuz Clã;

1996: Ganhou o prêmio de melhor compositor n'Os Melhores de 1996 da Associação Paulista de Críticos de Arte pelo álbum Cuzcuz Clã;

1996: Ganhou o prêmio de Música do Ano no Melhores do Ano pela música "À Primeira Vista";

1997: Ganhou o prêmio de Melhor Música no Troféu Imprensa pela música "À Primeira Vista";

1997: Ganhou o prêmio de Melhor Videoclipe de MPB no MTV Video Music Brasil (VMB) pelo videoclipe "Mama África";

2016: Indicado ao prêmio de melhor cantor na categoria Pop / ROCK / REGGAE / HIPHOP / FUNK no Prêmio da Música Brasileira pelo álbum Estado de Poesia;

2016: Indicado ao prêmio de melhor livro de poesia no Prêmio Jabuti pelo livro Versos Pornográficos.

Tia Ciata

Tia Ciata

“Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata (Santo Amaro da Purificação1854 — Rio de Janeiro1924) foi uma cozinheira e mãe de santo brasileira, considerada por muitos como uma das figuras influentes para o surgimento do samba carioca. Foi iniciada no candomblé em Salvador por Bangboshê Obitikô e era filha de Oxum. No Rio de Janeiro, era Iyakekerê na casa de João Alabá. Também ficou marcada como uma das principais animadoras da cultura negra nas nascentes favelas cariocas. Em sua casa na Praça Onze era onde os sambistas se reuniam, foi criado o primeiro samba gravado em disco - "Pelo Telefone"- , uma composição de Donga e Mauro de Almeida, na voz do cantor Baiano, também nascido em Santo Amaro da Purificação.

Como muitas mulheres brasileiras do início do Século XX, ela poderia ser mais uma mulher negra, migrante que fazia doces para ajudar a criar os 14 filhos. Mas, “Hilária Batista de Almeida” resolveu não se curvar diante das circunstâncias e escreveu para sempre seu nome da história do Brasil e do Samba!

Tia Ciata, como era conhecida, nasceu em Santo Amaro da Purificação em 1854 e aos 22 anos levou o samba de Roda para o Rio de Janeiro. Foi a mais famosa das tias baianas(na maioria iyalorixás do Candomblé que deixaram Salvador por causa das perseguições policiais) do início do século, eram negras baianas que foram para o Rio de Janeiro especialmente na última década do século XIX e na primeira do século XX para morar na Praça Onze, na região da Cidade Nova. Logo na chegada ao Rio de Janeiro, conheceu Noberto da Rocha Guimarães, envolvendo-se com ele, então, e acabou ficando grávida de sua primeira filha lhe dando o nome de Isabel. O caso dos dois não foi adiante. Ela acabou se separando de Noberto e, para sustentar a filha, começou a trabalhar como quituteira na Rua Sete de Setembro, sempre paramentada com suas vestes de baiana. Era na comida que ela expressava suas convicções religiosas, ou seja, a sua fé no candomblé, religião proibida e perseguida naqueles tempos. Ia para o ponto de venda com sua roupa de baiana uma saia rodada e bem engomada, turbante e diversos colares (guias ou fio-de-contas) e pulseiras sempre na cor do orixá que iria homenagear. O tabuleiro era famoso e farto, repleto de bolos e manjares que faziam a alegria dos transeuntes de todas as classes sociais.

Mais tarde, Tia Ciata casou-se com João Batista da Silva, que para aquela época era um negro bem-sucedido na vida. Deste casamento resultaram 14 filhos, uma relação fundamental para a sua afirmação na Pequena África, como era conhecida a área da Praça Onze nesta época. Recebia todos os finais de semana em sua casa, nos pagodes, que eram festas dançantes, regadas a música da melhor qualidade e claro seus quitutes. Partideira reconhecida, cantava com autoridade respondendo aos refrões das festas, que se arrastavam por dias. Tia Ciata cuidava para que a comida estivesse sempre quente e saborosa e o samba nunca parasse.

Foi em sua casa que se reuniram os maiores compositores e malandros, como Hilário Jovino FerreiraDongaSinhô e João da Baiana, para saraus. A hospitalidade dessas baianas fornecia a base para que os compositores pudessem desenvolver no Rio de Janeiro. A casa da Tia Ciata na Praça Onze era tradicional ponto de encontro de personagens do samba carioca, tanto que nos primeiros anos de desfile das escolas de samba, era "obrigatório" passar diante de sua casa.

As Tias Baianas do início do século XX, exerciam uma liderança na organização da família, da religião e do lazer. Segundo testemunhas das festas da Tia Ciata, incluindo sua neta Lili Jumbemba, ela levava meia hora fazendo “miudinho na roda” e “sabia sambar direitinho… arrastar graciosamente as chinelinhas na ponta do pé”. Porém as festas na sua casa, não eram bagunça:

João da Baiana contava que “os velhos ficavam na sala da frente cantando partido alto… os jovens ficavam nos quartos cantando samba corrido e, no terreiro, ficava o pessoal que gostava da batucada.”

Segundo o próprio Donga: “Formava-se uma roda. No Centro as pessoas sapateavam… dançava um de cada vez, com entusiasmo, fazendo samba nos pés…”

Resumindo na casa da Tia Ciata, havia alegria, havia comida boa, havia liberdade para cantar, dançar, brincar, compor, mas sem bagunça!

Normalmente, a polícia perseguia estes encontros, mas Tia Ciata era famosa por seu lado curandeiro e foi justamente um investigador e chofer de polícia, conhecido como Bispo que proporcionou a ela uma interessante história envolvendo o presidente da República, Wenceslau Brás. O presidente estava adoentado em virtude de uma ferida na perna que os médicos não conseguiam curar e este investigador então disse ao Presidente que Tia Ciata poderia curá-lo. Feito isto, foi falar com ela, dizendo:

- "Ele é um homem, um senhor do bem. Ele é o criador desse negócio da Lei de um dia não trabalha..."

E ela respondeu:

- "Quem precisa de caridade que venha cá."

Imperava o respeito à Tia Ciata que além de cozinheira, costureira e anfitriã, ainda era “IYá Kekerê” (principal auxiliar do pai-de-santo) num dos mais prestigiados terreiros do Rio, o terreiro de João Alaba.

Ela então incorporou um Orixá que disse aos presentes haver cura para a tal ferida e recomendou a Wenceslau Brás que fizesse uma pasta feita de ervas que deveria ser colocada por três dias seguidos. O Presidente ficou bom e em troca ofereceu a realização de qualquer pedido. Tia Ciata respondeu que não precisava de nada, mas que seu marido sim, pedindo para o Presidente um trabalho no serviço público, "pois minha família é numerosa", explicou ela.

Além dos doces, Tia Ciata alugava as roupas de baiana para os teatros para que fossem usados como figurinos de peça e para o Carnaval dos clubes. Nesta época, mesmo os homens, se vestiam com as suas fantasias, se divertindo nos blocos de rua. Com este comércio, muita gente da Zona Sul da cidade, da alta sociedade, ia à casa da baiana e passando assim a freqüentar as suas festas. Era nessas festas que Tia Ciata passou a dar consultas com seus orixás. Sua casa é uma referência na história do samba, do candomblé e da cidade.

Em 1910, morre seu marido João Batista da Silva, mas ela já havia conquistado o seu lugar de estrela no universo do samba carioca. Era respeitada na cidade, coisa de cidadão, muito longe da realidade comum dos negros de sua época. Todo o ano, durante o Carnaval, armava uma barraca na Praça Onze, reunindo desde trabalhadores até a fina flor da malandragem. Na barraca eram lançadas as músicas, as conhecidas marchinhas, que ficariam famosas no Carnaval do Rio de Janeiro. Morre em 1924, eternizando-se à história do samba de raiz”.

Edgar "Blackout"

Edgar "Blackout" Borges

“Adeus: cinco letras que choram.” Esta foi a última frase do poeta Blackout para o livreiro Abimael Silva, em visita ao Sebo Vermelho, no Centro de Natal. Dois dias depois, a 14 de Dezembro de 1999, o poeta foi eletrocutado, ao fazer um ‘bico’ numa residência do seu bairro, e se encantava de vez deste mundo.

Blackout, pseudônimo de Edgar Borges, foi poeta, pintor de paredes e eletricista, radicado na cidade do Natal, no bairro de Mãe Luiza. Sobrevivia de fazer ‘bicos’ e de trocar seus poemas por dinheiro ou refeições no café São Luís, no centro de Natal. Sua vida se dividia, muitas vezes, entre as ruas e as noites passadas no Hospital Psiquiátrico Dr. João Machado, na capital potiguar. Durante o tempo que ficou internado, o psiquiatra Franklin Capistrano, que também se dedica à literatura, o diagnosticou com hebefrenia, uma perturbação psíquica que se desenvolve ao término da puberdade.

Lembrado por todos pelo seu estilo excêntrico de vestimenta, era perseguido pela polícia por ser pobre e, sobretudo, por ser negro. No entanto, esse racismo não era (é?) praticado apenas pela polícia, o que pode ser verificado na exclusão do poeta de importantes antologias e trabalhos acadêmicos sobre a produção poética no Rio Grande do Norte.

Infelizmente Blackout caiu no esquecimento e acabou se diluindo na memória dos natalenses, à la “memória do Brasil”, um poema visual de sua autoria.

Em 1981, aos 20 anos, publica pela Cooperativa dos Jornalistas de Natal (COOJORNAT), com a ajuda de amigos, seu primeiro e único livro intitulado “Duas Cabeças”, numa edição bem simples. Além disso, participou da antologia “Geração Alternativa”, organizada por J. Medeiros e, também, publicou alguns poemas dispersos em jornais locais, todos completamente inéditos em livros.

Informações sobre o poeta são de difícil acesso ou inexistentes.

BLACKOUT POR BLACKOUT

E, para concluir, ninguém melhor do que o próprio poeta, para falar de sua própria vida. Abaixo segue uma pequena autobiografia presente no início do seu livro. Texto publicado pelos organizadores na Poesia Subterrânea:

“Nasci a 16 de outubro de 1961. E comecei a despertar meus sonhos quando criança porque na época passei por diversas condições. Indo estudar num Colégio Interno; este mesmo pertencia ao Governo do Estado.

Depois fui encaminhado para o Ginásio Agrícola de Currais Novos, onde tive o prazer de conhecer mais de perto, todas as barras que passam um ser humana para conseguir sua identidade.

Andei bastante para alcançar este cálice e aqui confesso o pouco que aprendi está aqui nestas páginas cansadas e de tantas lutas, onde a cada dia procuro a finalidade de um EU.

Agora faço uma pequena pausa para agradecer todas as pessoas que fazem parte desta mesma maratona. Incentivo abertamente… persista que jamais será vencido por outras palavras.”

 

In: http://papocultura.com.br/

Elio Ferreira

Elio Ferreira

Elio Ferreira nasceu em Floriano, no Estado do Piauí, em 14 de maio de 1955. Poeta, ensaísta, professor de literatura, capoeirista, rapper. Elio é uma figura múltipla que, como ele próprio afirma, gosta de “viver de acordo com o tipo de poesia q [sic] escreve”. Durante a época de lançamento do seu livro O contra-lei (O ciclo do fogo), vestia-se com uma capa preta, pintava o rosto e saía pelas ruas carregando uma bandeira do Brasil e um megafone para realizar performances com suas poesias. Além de todas essas profissões, o poeta exerceu, dos nove aos vinte anos, o ofício de ferreiro, que aprendera com o pai. Apesar de ter deixado a profissão para estudar letras em Brasília, Elio Ferreira não deixou de usar o ferro, o martelo e o fogo como instrumentos de trabalho, convertendo-os em algumas das imagens mais recorrentes em sua poesia. A temática de seus poemas, que oscilam entre uma forte influência do concretismo e o uso de formas mais simples, é bastante vasta. Pode-se, no entanto, destacar neles a atestação do impacto da diáspora negra nas Américas, bem como a crítica política e social. E é através desses núcleos temáticos que a tarefa de escrever se define para ele:“[Escrever] é uma maneira de falar para o mundo, contar a história dos meus antepassados negros e a minha própria história, influindo e participando na transformação da sociedade através da denúncia contra as violências racial e social.

 

Livros de Poesia Publicados

Canto sem Viola (poesia), 1983.

Poemas do Nordeste, 1983.

Poemartelos: O ciclo-do-ferro, 1986.

O contra-lei, 1994.

O contra-lei & outros poemas, 1997. (Abracadabra edições,1994/1997)

América negra, 2004.

América negra & outros poemas afro-brasileiros, 2014/2015.

Fabião das Queimadas

Fabião das Queimadas

Fabião Hermenegildo Ferreira da Rocha 
1848 Santa Cruz, RN 
1928 Santa Cruz, RN 

Poeta. Tocador de rabeca. Cantador. Instrumentista. 
Foi escravo, mas conseguiu comprar a alforria. Comprou também a alforria da mãe e de uma sobrinha com quem se casou.  Nasceu escravo da Fazenda do Coronel Zé Fereira. Começou a cantar por volta dos 10 anos, durante os trabalhos na roça. Era tocador de rabeca. Adquiriu seu instrumento aos 15 anos, com dinheiro do trabalho na roça. Começou a cantar na região, com a permissão e o incentivo de seu dono. Cantando nas casas\ de ricos, conseguiu comprar sua alforria. Analfabeto, compôs o "Romance do boi da mão de pau", com 48 estrofes. Foi registrado por Luís da Câmara Cascudo em seu livro "Vaqueiros e cantadores". Em 1999, por ocasião dos 400 anos da cidade de Natal, teve seu "Romance do boi da mão de pau" recriado por Ariano Suassuna e por Antônio Nóbrega e pela primeira vez gravado no CD "Nação potiguar". Suas composições apresentam traços dos romances herdados da idade média. Em 2006, foi apresentado programa especial sobre sua vida e sua obra, na TV Futura. 
 

Obras: 
* Morte do boi da mão de pau (c/ Ariano Suassuna e Antônio Nóbrega) 
* Romance do boi da mão de pau 
Fonte: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira

Ferreira Itajubá

Ferreira Itajubá

“Manuel Virgílio Ferreira, ou Ferreira Itajubá (Natal21 de Agosto de 1877? – Rio de Janeiro30 de Junho de 1912) foi um poeta potiguar.

Existem controvérsias quanto à sua data de nascimento. O próprio poeta assinou certo documento declarando que nasceu em 1877. Na casa em que nasceu, na rua Chile, 63, existe hoje uma placa de mármore com os dizeres: 1875. Câmara Cascudo defende o ano de 1876.

Ferreira Itajubá aprendeu as primeiras letras, com o professor Tertuliano Pinheiro (Terto) e com Joaquim Lourival Soares da Câmara, o Professor Panqueca, filho do consagrado poeta Lourival Açucena.

Era filho de potiguares. Seu pai, Joaquim José Ferreira, morreu de varíola quando ele tinha apenas seis anos. Sua mãe, Francisca Ferreira de Oliveira, nasceu em Morrinhos, no município de Touros. Foi ela quem criou o poeta, que teve que trabalhar desde cedo.

Aos doze anos, começou a trabalhar na loja de Antônio Sátiro, na rua Chile. Depois de quatro anos, foi morar em Macau, onde trabalhou na loja de Antônio Deodato. Lá, adoeceu de varíola e logo retornaria a Natal, e ao antigo emprego, mas com melhor salário e permissão para estudar. Mas com a morte de seu patrão, teve de procurar por outras fontes de renda. Fundou um circo no quintal de sua casa, e trabalhou como escrevente na Associação de Praticagem, em Natal, Macau e Areia Branca. Foi bedel da escola onde estudou, o Atheneu, e pintava letreiros comerciais nas horas vagas.

Funda em 1896, o jornal literário O Echo, de circulação semanal. No ano seguinte, funda a revista A Manhã. Escreveu para quase todos os jornais de seu tempo, entre eles: A República, Diário de Natal, Gazeta do Comércio, A Capital, O Trabalho, O Arurau, A Tampa, A Rua, Pax, O Torpedo.

Sua poesia era ligada ao Romantismo, mas com influência do Parnasianismo e do Simbolismo.

Foi criticado pela condição econômica e também pela pouca escolaridade”.

 

OBRAS

Terra Natal (1914)

Harmonias do Norte(1927)

Dispersos(2009)

Lenda de Extremoz

Perfil de Jesus

Dona Ivone Lara

Dona Ivone Lara

“Dona Ivone Lara nasceu em 13 de abril de 1922 na rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. Foi a primeira filha da união entre a costureira Emerentina Bento da Silva e João da Silva Lara. Paralelamente ao trabalho, ambos tinham intensa vida musical: ele era violonista de sete cordas e desfilava no Bloco dos Africanos; ela era ótima cantora e emprestava sua voz de soprano a ranchos carnavalescos tradicionais do Rio de Janeiro, como o Flor do Abacate e o Ameno Resedá – nos quais seu João também se apresentava. Formada em enfermagem e serviço social, com especialização em terapia ocupacional, foi uma profissional na área até se aposentar em 1977. Nesta função trabalhou em hospitais psiquiátricos, onde conheceu a dra. Nise da Silveira.

Com a morte do pai, com menos de três anos de idade, e da mãe aos dezesseis, foi criada pelos tios e com eles aprendeu a tocar cavaquinho e a ouvir samba, ao lado do primo Mestre Fuleiro; teve aulas de canto com Lucília Guimarães e recebeu elogios do marido desta, o maestro Villa-Lobos.

Casou-se em 4 de dezembro de 1947 com Oscar Costa, filho de Alfredo Costa, presidente da escola de samba Prazer da Serrinha, com quem teve dois filhos, Alfredo e Odir. Foram casados durante 28 anos, até a morte de Oscar. Foi no Prazer da Serrinha onde conheceu alguns compositores que viriam a ser seus parceiros em algumas composições, como Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira.

Compôs o samba Nasci para sofrer, que se tornou o hino da escola. Com a fundação do Império Serrano, em 1947, passou a desfilar na ala das baianas. E também Compôs o samba Não me perguntes, mas a consagração veio em 1965, com Os cinco bailes da história do Rio, quando tornou-se a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores da escola de samba.

Em 1975, depois de seu filho Odir sofrer um acidente de carro, com o susto seu marido Oscar Costa, teve um enfarte fulminante e faleceu. Apesar de seu marido nunca ter nada contra sua carreira, ele não gostava das rodas de samba.

Aposentada em 1977, passou a dedicar-se exclusivamente à carreira artística. Entre os intérpretes que gravaram suas composições destacam-se Clara NunesRoberto RibeiroMaria BethâniaGal CostaCaetano VelosoGilberto GilPaula TollerPaulinho da ViolaBeth CarvalhoMariene de CastroRoberta SáMarisa Monte e Dorina. Uma de suas composições mais conhecidas, em parceria com Délcio Carvalho, foi Sonho Meu, sucesso na voz de Maria Bethânia e Gal Costa em 1978, cujo álbum ultrapassou um milhão de cópias vendidas.

Dona Ivone também teve trabalhos como atriz, com participação em filmes, e foi a Tia Nastácia em especiais do programa Sítio do Pica-Pau Amarelo.

Em 2008, Dona Ivone interpretou a canção Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço no projeto Samba Social Clube. A faixa foi incluída, no ano seguinte, numa coletânea com as melhores performances do projeto.

Em 2008 ela perde seu filho Odir, vítima de complicações decorrentes da diabetes.

No ano de 2012, foi homenageada pelo Império Serrano, no grupo de acesso, com o enredo Dona Ivone Lara: O enredo do meu samba. Em 2010 foi a homenageada na 21.ª edição do Prêmio da Música Brasileira. Em dezembro de 2014 foi a homenageada na 19.ª edição do Trem do Samba. Um mês antes, Dona Ivone havia participado do primeiro dia de gravações do Sambabook, em homenagem à sua carreira da gravadora Musickeria. Cantores como Maria BethâniaElba RamalhoCrioloZeca PagodinhoMartinho da VilaArlindo CruzAdriana Calcanhoto e Zélia Duncanfizeram versões de canções de Dona Ivone, enquanto ela própria gravou com Diogo Nogueira uma canção inédita, composta com seu neto, André.

Em 2015, entrou para a lista das Dez Grandes Mulheres que Marcaram a História do Rio.

Dona Ivone morreu no dia 16 de abril de 2018, em consequência de um quadro de insuficiência cardiorrespiratória após permanecer internada por três dias no Centro de Tratamento e Terapia Intensiva (CTI) da Coordenação de Emergência Regional (CER), no Leblon, Rio de Janeiro. O velório aconteceu na Quadra da Império Serrano, sua escola do coração, em Madureira, na Zona Norte da cidade. O enterro de Dona Ivone aconteceu no Cemitério de Inhaúma, no Rio de Janeiro”.

Luciano Bezerra Vieira

Luciano Bezerra Vieira

“Luciano (1959 -2017) era historiador, foi presidente do Movimento do Espírito Lilás na Paraíba (MEL), liderança de referência nacional dos movimentos sociais e da luta pelos direitos humanos. Filiado ao PT, foi dirigente do partido, inclusive ocupando o cargo de Secretário Estadual LGBT. Atualmente, era coordenador do Conselho LGBT de João Pessoa e 2º suplente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transexuais (ABGLT).

Em recente entrevista à assessoria de imprensa do Partido dos Trabalhadores, Luciano declarou que, a luta LGBT estava se renovando, com “muitos jovens e alguns poucos velhos/as de guerra porém cheios ainda de energia para enfrentar nossos reais inimigos. Juntos/as somos mais fortes”. Luciano tinha essa energia de luta e de capacidade para os desafios. Sua luta é um exemplo para as gerações atuais e futuras”.

Luiz Inácio Lula da Silva

Luiz Inácio Lula da Silva

“No Brasil em que o menino Lula nasceu, em 1945, suas chances de sobreviver e chegar à idade adulta com educação formal e um trabalho digno eram mínimas, quase nulas. De cada dez crianças nascidas no Nordeste do país, duas morriam antes de completar um ano. Ele sobreviveu; como sobreviveria à seca, ao latifúndio e à fome, as três pragas que assolavam a região.

No mundo em que Lula nasceu, o destino do Brasil estava condicionado aos interesses do lado norte-americano da Guerra Fria. Era um país com metade da população isolada no campo e 56% de analfabetos (mais de 70% no Nordeste). As elites atrasadas viviam da renda agrícola e financeira, combatendo tenazmente qualquer um que sonhasse com um país desenvolvido e socialmente justo.

A vida de Lula se confunde com a luta de toda uma geração de brasileiros que desafiou aquele destino. Ainda criança ele percorreu, com a mãe e os irmãos, o longo caminho de Garanhuns até o litoral de São Paulo, onde conheceriam outras pragas: o desemprego, a favela, a violência. E a fome sempre rondando. Sobreviveram graças à obstinação de dona Lindu, que ensinou os filhos a trabalhar desde cedo e a compartilhar solidariamente o pouco que cada um ganhava.

Lula era um jovem operário quando os militares tomaram o poder no país, em 1964. Nos anos seguintes, trabalhando no coração da indústria brasileira, Lula iniciou seu aprendizado político pela ação sindical – numa época em que reivindicar salários e direitos podia dar em cadeia, tortura e morte. Liderando greves reprimidas pela ditadura, aprendeu que os trabalhadores precisavam também fazer política, ter seu próprio partido.

Desde a criação do PT, em 1980, a trajetória de Lula é bem conhecida. Construiu o maior partido de massas do país, disputou e perdeu três eleições, desafiou o preconceito, os poderosos, os meios de comunicação, para tornar-se, em outubro de 2002, o primeiro trabalhador eleito presidente do Brasil. Em oito anos de governo, provou que era possível mudar o destino do país”.

 

                                                                         (Por Fernando Morais - escritor)

Marielle Franco

Marielle Franco

Marielle Francisco da Silva, conhecida como Marielle Franco, foi uma sociólogafeminista, militante dos direitos humanos e política brasileira. Filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), elegeu-se vereadora do Rio de Janeiro para a Legislatura 2017-2020, durante a eleição municipal de 2016, com a quinta maior votação.

Marielle Franco era filha de Marinete e Antonio Francisco da Silva Neto. Com criação católica, nasceu no Complexo da Maré, na cidade do Rio de Janeiro, e se apresentava como "cria da Maré". Em 1990, aos 11 anos de idade, começou a trabalhar, usando o salário para ajudar a pagar os seus estudos. Posteriormente, também exerceu a função de educadora infantil em uma creche. Ainda na juventude, participou da equipe do Furacão 2000.

Em 1998, Franco deu à luz sua primeira e única filha, Luyara. Naquele mesmo ano, matriculou-se na primeira turma de pré-vestibular comunitário oferecido no Complexo da Maré. Em 2000, começou a militar pelos direitos humanos, depois de uma de suas amigas ser atingida fatalmente por uma troca de tiros entre policiais e traficantes na Maré.

Em 2002, ingressou na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), estudando Ciências Sociais com uma bolsa integral obtida pelo Programa Universidade para Todos (Prouni). Após se graduar em Ciências Sociais, concluiu um mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), onde defendeu a dissertação intitulada "UPP - A redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro".

Franco identificava-se como parte da comunidade LGBT e, em 2017, mudou-se para o bairro carioca da Tijuca com sua companheira, Mônica Benício, e sua filha, Luyara. Franco e Benício iniciaram um relacionamento amoroso em meados dos anos 2000, e em 2018 haviam marcado o casamento para o ano seguinte.

Na eleição estadual carioca de 2006, Franco integrou a equipe de campanha que elegeu Marcelo Freixo à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). Com a posse de Freixo, foi nomeada assessora parlamentar do deputado, trabalhando com ele por dez anos. Franco assumiu a coordenação da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e, nesta posição, prestou auxílio jurídico e psicológico a familiares de vítimas de homicídios ou policiais vitimados. Um dos casos que ela ajudou a solucionar foi o de um policial civil assassinado por um colega. De acordo com um ex-comandante da Polícia Militar que trocava informações com Franco sobre policiais mortos, "É uma bobagem dizer que não defendia policiais".

Em 2016, na sua primeira disputa eleitoral, foi eleita vereadora na capital fluminense pela coligação Mudar é possível, formada pelo PSOL e pelo PCB. Com mais de 46 mil votos, foi a quinta candidata mais votada no município e a segunda mulher mais votada ao cargo de vereadora em todo o país. Na Câmara Municipal, presidiu a Comissão de Defesa da Mulher e integrou uma comissão composta por quatro pessoas, cujo objetivo era monitorar a intervenção federal no Rio de Janeiro, sendo escolhida como sua relatora em 28 de fevereiro de 2018. Era crítica da intervenção federal, assim como criticava e denunciava constantemente abusos policiais e violações aos direitos humanos.

Como vereadora, Franco também trabalhou na coleta de dados sobre a violência contra as mulheres, pela garantia do aborto nos casos previstos por lei e pelo aumento na participação feminina na política. Em pouco mais de um ano, redigiu e firmou dezesseis projetos de lei, dois dos quais foram aprovados: um que regulou o serviço de mototáxi e a Lei das Casas de Parto, visando a construção desses espaços cujo objetivo era fornecer a realização de partos normais. Suas preposições legislativas buscavam garantir apoio aos direitos das mulheres, a população LGBT, aos negros e moradores de favelas. Em agosto de 2017, os vereadores cariocas rejeitaram, por 19 a 17, sua proposta para incluir o Dia da Visibilidade Lésbica no calendário municipal

Crítica da intervenção federal no Rio de Janeiro e da Polícia Militar, denunciava constantemente abusos de autoridade por parte de policiais contra moradores de comunidades carentes, foi  brutalmente assassinada com tiros a queima roupa.

Dona Militana

Dona Militana

Dona Militana (1925 – 2010) - São Gonçalo do Amarante - contadora de memórias invencionadas da tradição popular, bebe na oralidade cultural do nordeste; trovadora, romanceira brasileira, foi uma cantora de versos  considerada por muitos a maior romanceira do Brasil.

“A Mulher Potiguar – Cinco Séculos de Presença Militana do Nascimento, a Romanceira Dona de memória privilegiada, capaz de recitar longos enredos do romanceiro nordestino que ouviu na infância, Militana Salustino do Nascimento nasceu em 1925, em Santo Antônio dos Barreiros, município de São Gonçalo do Amarante, RN. De origem humilde, negra, sem escolaridade, aprendeu a cantar romances ibéricos e nacionais com o seu pai, Atanásio Salustino do Nascimento, quando trabalhava na roça. Sua memória guarda, por tradição oral, um considerável acervo, o que faz dela uma enciclopédia viva cultura popular. É a mais importante romanceira do Estado e uma das melhores do país. Militana canta seus romanceiros numa cadência que lembra o cantochão, com ritmo baseado na acentuação e nas divisões do fraseado. Na maioria das vezes, as narrativas cantadas são histórias trágicas, como a do “Conte de Amarante”, em que a esposa chora a ausência do marido, enquanto dá ao filho “o leite da amargura” e se despede da vida. Outros romances, como “Nau Catarineta”, trazem uma poesia de terras distantes, desconhecidas, lugares por onde Militana navega com a memória e a imaginação: “Ainda avistamos três moças Oh tão linda! Debaixo de um laranjal Uma lavando ouro pedra Oh tão linda! Outra lavando metal.” A partir de 1995, a arte de Militana passou a ser mais conhecida no Brasil, graças aos Encontros de Cultura Popular do Rio Grande do Norte e ao lançamento do CD Romances e cantos de excelência, onde ela tem participação nos principais romances: os já citados “Conde de Amarante” e “Nau Catarineta” e também “Dona Branca” e “Rei Afonso”. Aos 83 anos de idade, conservando intata a memória privilegiada, ela se apresentou em João Pessoa, Aracaju, no Teatro Brincante de São Paulo e no teatro do Museu da República, no Rio de Janeiro. Estudiosos da cultura popular asseguram que o acervo de poesia dramática cantada por Militana é o maior do país. Fonte: A Mulher Potiguar – Cinco Séculos de Presença. Natal-RN, Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine-CEPEJUL, Fundação José Augusto, 1999. NASCIMENTO, Militana Salustino do - Nasceu no sítio “Oiteiro”, em Santo Antônio dos Barreiros, município de São Gonçalo do Amarante-RN, a 19.O3.1925, filha de Atanásio Salustino do Nascimento e d. Maria Militana do Nascimento. Sem escolaridade mas possuidora de memória privilegiada, aprendeu a cantar romances ibéricos e nacionais com o seu pai, por sua vez grande expressão do folclore em São Gonçalo e adjacências, dele tendo herdado vasto repertório de cantigas, desde velhos romances portugueses aos romances brasileiros da saga do cangaço. Descoberta pelo folclorista Deífilo Gurgel (1979), sua primeira apresentação pública ocorreu logo depois no Seminário de Literatura do Povo, organizado por ele e pelo escritor Tarcísio Gurgel, no âmbito da UFRN. Sua arte passaria a ter maior repercussão, no entanto, a partir das apresentações nos Encontros de Cultura Popular promovidos pela Fundação José Augusto, em 1995 e anos seguintes. Interpreta com maestria vários romances, tais como Conde de Amarante, A Tapuia, Nau Catarineta, Dom Jorge, Rei Afonso e Bela Pastorinha, estes gravados no CD Romances e Cantos de Excelência, produzido por este Centro de Estudos e Pesquisas em comemoração pelo transcurso do centenário de nascimento do historiador Luís da Câmara Cascudo. Em novembro de 2005 recebeu, em cerimônia no Palácio do Planalto e pelas mãos do Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, a “Ordem do Mérito Cultural”, comenda máxima da cultura brasileira instituída dez anos antes pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (Decreto nº. 1.711, de 22 de novembro de 1995). Dona Militana, também conhecida como Maria José, ainda reside no sítio “Oiteiro”.

Fontes: GURGEL, Deífilo, folclorista (depoimento). A Mulher potiguar, cinco séculos de presença, FJA, 1999. “Jornal de Hoje”, edição de 26 de outubro de 2005. Encarte “Galante”, Scriptorin Candinha Bezerra-Fundação Hélio Galvão, nº. 06, Ano 01, nov., 1999.

Meste Moa do Katendê

Mestre Moa do Katendê

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Romualdo Rosário da Costa (Salvador, 29 de outubro de 1954 — Salvador, 8 de outubro de 2018), conhecido como Mestre Moa do Katendê, foi um compositor, percussionista, artesão, educador e mestre de capoeira brasileiro. Considerado um dos maiores mestres de capoeira de Angola da Bahia, começou a praticar capoeira aos oito anos de idade, no terreiro de sua tia, o Ilê Axé Omin Bain. Foi campeão do Festival da Canção do bloco Ilê Aiyê em 1977. Promoveu o afoxé, fundando em 1978 o Badauê, e em 1995 o Amigos de Katendê. Defendia um processo de “reafricanização” da juventude baiana e do carnaval, seguindo as propostas de Antonio Risério.

Foi assassinado com doze facadas pelas costas após o primeiro turno das eleições gerais de 2018. Segundo testemunhas e a investigação policial, o ataque foi motivado por discussões políticas, após Romualdo declarar ter votado em Fernando Haddad. O agressor, apoiador do candidato adversário, teria discutido com o capoeirista e deixado a cena, voltando logo em seguida com o facão com o qual teria desferido ao menos 12 facadas na vítima. Romualdo não resistiu e morreu no local.

A morte do compositor suscitou homenagens por artistas próximos como Caetano Veloso e Gilberto Gil e também de artistas internacionais, como Roger Waters. Grupos de capoeira e movimentos ligados à cultura africana também fizeram homenagens em Salvador, Recife e São Paulo.

Naná Vasconcelos

Naná Vasconcelos

“Juvenal de Holanda Vasconcelos, mais conhecido como Naná Vasconcelos (Recife2 de agosto de 1944 — Recife9 de marçode 2016), foi um músico brasileiro.

Eleito oito vezes o melhor percussionista do mundo pela revista americana Down Beat (votação feita pelos críticos musicais da revista) e ganhador de oito prêmios Grammy (brasileiro com mais prêmio Grammy), era considerado uma autoridade mundial em percussão.

Dotado de uma curiosidade intensa, indo da música erudita do brasileiro Villa-Lobos ao roqueiro Jimi Hendrix, Naná aprendeu a tocar praticamente todos os instrumentos de percussão, embora nos anos 60 tenha se especializado no berimbau.

Durante toda sua carreira sempre teve preferência por instrumentos de percussão e nos anos 60 se notabilizou por seu talento com o berimbau.

Em 1967 mudou-se para o Rio de Janeiro onde gravou dois LPs com Milton Nascimento. No ano seguinte, junto com Geraldo Azevedo, viajou para São Paulo para participar do Quarteto Livre, que acompanhou Geraldo Vandré no III Festival Internacional da Canção.

No início da década de 1970, formou o Trio do Bagaço, com Nélson Angelo e Maurício Maestro, apresentando-se, com o grupo, no México, a convite de Luis Eça. Foi nesta mesma época que Gato Barbieri, saxofonista argentino, o convidou para fazer parte do seu grupo, ajudando o percussionista a ganhar projeção internacional, começando uma longa carreira fora do Brasil. Com o músico argentino, ele se apresentou em Nova York e Europa, com destaque para o festival de Montreaux, na Suíça, onde o percussionista encantou público e crítica.

Sua discografia é tão extensa quanto os projetos ligados à música nos quais ele esteve envolvido. Ele atuou como percussionista ao lado de diversos artistas internacionais como B. B. KingJean-Luc PontyDavid ByrneJon HassellEgberto GismontiPat MethenyEvelyn Glennie e Jan Garbarek. Formou, entre os anos de 1978 e 1982, ao lado de Don Cherry e Collin Walcott, o trio de jazz CoDoNa, com o qual lançou 3 álbuns, num estilo musical definido como world jazz. Em 1981, tocou no Woodstock Jazz Festival, em comemoração ao décimo aniversário do Creative Music Studio. Em 1998, Vasconcelos contribuiu com a música "Luz de Candeeiro" para o álbum Onda Sonora: Red Hot + Lisbon, compilação beneficente em prol do combate à AIDS, produzida pela Red Hot Organization.

Em 2013, o músico fez a trilha sonora da animação O Menino e o Mundo, que concorreu ao Oscar de melhor filme de animação em 2016.

Em 2015, Naná lançou um projeto com o cantor Zeca Baleiro e Paulo Lepetit chamado "Projeto Café no Bule".

No dia 9 de dezembro de 2015, Naná Vasconcelos recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) - sem nunca ter cursado nível superior. Esta honraria é concedida a pessoas que tenham se destacado em meios como artes, filosofia ou ciência, por exemplo.

Naná Vasconcelos ganhou, por oito anos consecutivos (1983-1990), o prêmio de Melhor Percussionista do Ano da conceituada revista Down Beat, considerada a "bíblia do jazz".

Com uma forte ligação com a cultura popular, nos seus últimos 15 anos de vida, Naná abriu o Carnaval do Recife, acompanhado pelo cortejo de nações de maracatu.

"Mesmo se eu morrer, não quero ninguém chorando, quero muito batuque, muito barulho, porque, se vocês fizerem silêncio, vou pensar que vocês estão dormindo e vou fazer como em casa, com minha esposa. Quando ela está dormindo, faço barulho para ela acordar. É a cigarra".]

Nelson Mandela

Nelson Mandela

MANDELA É UMA MANDALA

Nascido numa família de nobreza tribal, numa pequena aldeia do interior onde possivelmente viria a ocupar cargo de chefia, recusou esse destino aos 23 anos ao seguir para a capital, Joanesburgo, e iniciar sua atuação política. Passando do interior rural para uma vida rebelde na faculdade, transformou-se em um jovem advogado na capital e líder da resistência não-violenta da juventude, acabando como réu em um infame julgamento por traição. Foragido, tornou-se depois o prisioneiro mais famoso do mundo[4] e, finalmente, o político mais galardoado em vida, responsável pela refundação do seu país como uma sociedade multiétnica.

Mandela passou 27 anos na prisão - inicialmente em Robben Island e, mais tarde, nas prisões de Pollsmoor e Victor Verster. Depois de uma campanha internacional, ele foi libertado em 1990, quando recrudescia a guerra civil em seu país. Em dezembro de 2013, foi revelado pelo The New York Times que a CIA americana foi a força decisiva para a prisão de Mandela em 1962, quando agentes americanos foram empregados para auxiliar as forças de segurança da África do Sul a localizá-lo.[6] Até 2009, ele havia dedicado 67 anos de sua vida à causa que defendeu como advogado de direitos humanos e pela qual se tornou prisioneiro de um regime de segregação racial, até ser eleito o primeiro presidente da África do Sul livre. Em sua homenagem, a Organização das Nações Unidas instituiu o Dia Internacional Nelson Mandela no dia de seu nascimento, 18 de julho, como forma de valorizar em todo o mundo a luta pela liberdade, pela justiça e pela democracia.

Mandela foi uma figura controversa durante grande parte da sua vida. Denunciado como um terrorista comunista por seus críticos, ele acabou sendo aclamado internacionalmente por seu ativismo e recebeu mais de 250 prêmios e condecorações, incluindo o Nobel da Paz em 1993, a Medalha Presidencial da Liberdade dos Estados Unidos e a Ordem de Lenin da União Soviética. Seus críticos apontam seus traços egocêntricos e o fato de seu governo ter sido amigo de ditadores simpáticos ao Congresso Nacional Africano (CNA). Em sua vida privada, enfrentou dramas pessoais mas permaneceu fiel ao dever de conduzir seu país. Foi o mais poderoso símbolo da luta contra o regime segregacionista do Apartheid, sistema racista oficializado em 1948, e modelo mundial de resistência. No dizer de Ali Abdessalam Treki, Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, "um dos maiores líderes morais e políticos de nosso tempo". Recebeu a Medalha Benjamin Franklin por Serviço Público de Destaque de 2000.

Paulina Chiziane

Paulina Chiziane

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Paulina Chiziane cresceu nos subúrbios da cidade de Maputo, anteriormente chamada Lourenço Marques. Nasceu numa família protestante onde se falavam as línguas Chope e Ronga. Aprendeu a língua portuguesa na escola de uma missão católica. Começou os estudos de Linguística na Universidade Eduardo Mondlane sem, porém, ter concluído o curso.

Participou ativamente à cena política de Moçambique como membro da Frente de Libertação de Moçambique, na qual militou durante a juventude. A escritora declarou, numa entrevista, ter apreendido a arte da militância na Frelimo. Deixou, todavia, de se envolver na política para se dedicar à escrita e publicação das suas obras. Entre as razões da sua escolha estava a desilusão com as diretivas políticas do partido Frelimo pós-independência, sobretudo em termos de políticas filo-ocidentais e ambivalências ideológicas internas do partido, quer pelo que diz respeito às políticas de mono e poligamia, quer pelas posições de economia política marxista-leninista, ou ainda pelo que via como suas hipocrisias em relação à liberdade econômica da mulher.

Iniciou a atividade literária em 1984 com contos publicados na imprensa moçambicana. Chiziane tornou-se a primeira mulher moçambicana a publicar um romance. O primeiro livro, Balada de Amor ao Vento, foi editado em 1990. Paulina vive e trabalha na Zambézia.

Romances

Balada de Amor ao Vento (1990)

Ventos do Apocalipse (1993)

O Sétimo Juramento (2000)

Niketche: Uma História de Poligamia  (2002)

O Alegre Canto da Perdiz (2008)

As Andorinhas (2009)

Por Quem Vibram os Tambores do Além (2013)

Ngoma Yethu: O curandeiro e o Novo Testamento (2015)

O Canto dos Escravos (2017)

Outras Obras

Eu, mulher… por uma nova visão do mundo (Testemunho, em 1992 e publicado em 1994)

 

Prêmios

Prémio José Craveirinha de 2003, pela obra Niketche: Uma História de Poligamia

Raquel Trindade

Raquel Trindade

“Raquel Trindade é atriz, pesquisadora, dançarina, coreógrafa e escritora. Filha do poeta e ativista Solano Trindade (1908-1974), Raquel nasceu no Recife em 1936. Ainda criança, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi registrada. A testemunha de seu registro foi o teatrólogo Abdias Nascimento, que à época já dava início ao Teatro Experimental do Negro.

Em meio à efervescência cultural do Rio de Janeiro, Solano Trindade ajudou a criar o Teatro Folclórico Brasileiro nos anos 1950, ao lado de Haroldo Costa. Após dissidência com os participantes e os investidores, criou o Teatro Popular Brasileiro (TPB), mais identificado com suas convicções. Depois de uma turnê com o TPB pelo Leste Europeu e de se apresentar na capital paulista, a família Trindade desembarcou em Embu. E ali se estabeleceu.

Junto com outros artistas, a família Trindade foi fundamental na criação e na manutenção de uma cultura artística no município, fato que levou a cidade a ter o reconhecimento pela atividade cultural e a ser chamada hoje de Embu das Artes. Em 1974, com o falecimento do pai, Raquel Trindade fundou o Teatro Popular Solano Trindade, que há 40 anos ensina maracatu, coco do Nordeste, Guerreiros de Alagoas, capoeira e bumba meu boi, entre outras manifestações populares, a jovens da região.

Em entrevista à Série +70, a escritora e coreógrafa compartilha um pouco de sua trajetória e fala dos feitos mais importantes de seu pai e de sua família por meio da divulgação, da criação e da promoção da cultura negra no país”.  (Por Itamar Dantas)

Raquel Trindade partiu do planeta Terra em 15 abril de 2018. O poeta Sérgio Vaz lamentou a morte da amiga escritora. “Raquel era um ser humano maravilhoso, uma mulher que através da sua arte e sabedoria nos ensinou que a luta contra o racismo, é uma luta de todos que acreditam na dignidade humana. Foi e será sempre uma honra ser contemporâneo dela. Tem gente que morre e fica ainda mais viva. Raquel é para sempre”.

Roberto Pontes

Roberto Pontes

“Roberto Pontes nasceu em Fortaleza Ceará em 1944. Em 1960 publicou seu primeiro poema intitulado “Harmonia”, no jornal discente do LICEU O Condor, No mesmo ano, começou a colaborar com os jornais de Fortaleza. Escreveu para O Nordeste, Gazeta de Notícias, Tribuna do Ceará, Unitário e O Povo. Nestas colaborações, merecem destaque as traduções de poemas do poeta chileno Pablo Neruda, publicadas no Jornal O Povo, bem como a tradução de um capítulo de Teoria de la Expressión Poética de Carlos BousoñoEm 1967 e 1968 participou ativamente do Grupo SIN de Literatura, cuja diretriz era o sincretismo literário e artístico. Nos mesmos anos foram publicadas a Minisinantologia, a Minisinantologia 2 (as duas em impressão mimeografada) e a SINantologia, esta última impressa em tipografia, três obras que marcaram historicamente a atuação do Grupo SIN de Literatura, representativo da Geração 60, no Ceará. Esta Geração tem três segmentos de linguagem que a caracterizam no Brasil: a discursiva, a experimental e a épica. Pontes tem relevante produção em todos três.

Em 1969 o autor foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional, diploma legal da ditadura militar. Apesar de ter sido provado não haver nada juridicamente que pudesse desabonar sua conduta, esse processo por muito tempo continuou gerando efeitos restritivos e o impediu de assumir cargos públicos até 1991.

Por ocasião do Natal de 1977, Pontes publicou três poemas: “Continua Pensando”, “Natal Chegou” e “Ditos de Natal”, alusivos à data magna cristã, em cartões separados, vendidos nos bares, escolas e ruas de Fortaleza. Em 1978 colaborou com o Jornal de Letras e escreveu resenhas para as revistas Vozes, Tempo Brasileiro e Encontros com a Civilização Brasileira, órgãos culturais do Rio de Janeiro. Roberto Pontes também tem colaborações publicadas nos jornais Correio do Ceará e Diário do Nordeste, órgãos da imprensa cearense, na revista Poesia Sempre do Rio de Janeiro, no jornal Poiésis de Petrópolis-RJ, e no Suplemento Literário Minas Gerais.Em 1983, participou dos Conselhos Editoriais dos jornais oposicionistas Mutirão e O Popular e da revista literária Nação Cariry, publicações de Fortaleza.

Em 1984 foi eleito Presidente da Associação Profissional dos Escritores do Ceará – APROESC, sucedendo ao escritor Jader de Carvalho.

Em 2003 passa a lecionar Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, disciplina que implantou no Curso de Letras da UFC. Pontes faz parte do grupo pioneiro dos estudos de Literaturas Africanas no Brasil.

Pontes também foi criador do “Grupo Poesia Simplesmente” sob sua orientação e incentivo. Também é fundador e coordenador do “Grupo Verso de Boca” em Fortaleza desde 1999, o qual é mantido pela Universidade Federal do Ceará como atividade de Cultura e Arte universitária. Ambos os grupos são de interpretação poética. Em 2002, por indicação do poeta carioca Humberto Mello, Roberto Pontes foi o poeta representante do Brasil no “Primeiro Festival Internacional de Poesia de El Salvador” promovido pela Fundación Poetas de El Salvador, que reuniu 58 poetas provindos dos cinco continentes.

Em 2007, o poeta foi honrado com a indicação de seu nome para ser um dos representantes do Brasil no “XII Festival Internacional de Poesia de La Habana” em Cuba. No ano anterior o Brasil foi representado pelo poeta Thiago de Mello. Após participação de Roberto Pontes no Festival, seu nome foi incluído na “Mesa Diretiva da Junta Mundial de Poesia em Defesa da Humanidade”, sediada no Caribe. A viagem a Cuba e a participação no XII Festival motivaram 30 poemas bilíngues sobre a terra e o povo cubano, os quais compõem o livro Hierba Buena/Erva Boa. O título do livro faz referência à hortelã, erva utilizada no preparo do “mojito”, famoso drinque cubano. Além disso, a metáfora que dá nome ao livro fica explicada no poema 24, “Cuba es la hierba buena”, o qual sugere a ideia de proliferação da Erva Boa, ou seja, do socialismo cubano.

Em 2011 foi convidado a participar do Festival Teknopoiésis pela Cátedra Unesco de Leitura da PUC-Rio. Em 2013, passou a integrar a Cátedra UNESCO (FACED/UFC) da United Nations University – UNU. Em 2014, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura PEN Clube do Brasil, concedido ao seu livro O Jogo de duplos na poesia de Sá-Carneiro”.

Tereza de Benguela

Tereza de Benguela

 Tereza de Benguela, Rainha Tereza, grande líder quilombola que viveu no atual estado do Mato Grosso, no Brasil do século XVII. Foi companheira de José Piolho, líder do Quilombo do Piolho (ou do Quariterê), entre o rio Guaporé,  fronteira entre Mato Grosso e Bolívia) e a atual  Cuiabá. Com a morte de José Piolho, Tereza se tornou a rainha do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por quase duas décadas. Grande liderança dos quilombolas ou mocambeiros, Tereza de Benguela se destacou também com a criação de uma espécie de Parlamento e de um sistema de defesa. Ali, era cultivado o algodão, que era utilizado na produção de tecidos. Havia também plantações de mandioca, milho, feijão, banana. Segundo relatos históricos, sobreviveu até o ano de 1770, quando o quilombo foi completamente destruído pelos capangas de Luiz Pinto de Souza Coutinho. Naquele momento, 79 negros e 30 índios foram mortos. Antes de ser assassinada pelo sistema escravocrata colonial, Tereza de Benguela toma veneno. Alguns quilombolas conseguiram fugir ao ataque e o reconstruíram – mesmo assim, em 1777 foi novamente invadido pelo exército, sendo totalmente extinto em 1795.

Homenagens aos Orixás

Exú

EXU ELEGBARÁ (ÈSÙ ou ELEGBÁRA) 

Èsù na África 
Exu é um orixá ou um ebora de múltiplos e contraditórios aspectos, o que torna difícil defini-lo de maneira coerente. De caráter irascível, ele gosta de suscitar dissensões e disputas, de provocar acidentes e calamidades públicas e privadas. É astucioso, grosseiro, vaidoso, indecente, a tal ponto que os primeiros missionários, assustados com essas características, compram-no ao diabo, dele fazendo o símbolo de tudo o que é maldade, perversidade, abjeção, ódio, em oposição à bondade, à pureza, à elevação e ao amor de Deus. 
Entretanto, exu possui o seu lado bom e, se ele é tratado com consideração, reage favoravelmente, mostrando-se serviçal e prestativo. Se, pelo contrário, as pessoas se esquecerem de lhe oferecerem sacrifícios e oferendas, podem esperar todas as catástrofes Exu revela-se, talvez, dessa maneira o mais humano dos orixás, nem completamente mau, nem completamente bom. 
Ele tem as qualidades dos seus defeitos, pois é dinâmico e jovial, constituindo-se, assim, um orixá protetor, havendo mesmo pessoas na África que usam orgulhosamente nomes como Èsùbíyìí (concebido por Exu), ou (Exu merece ser adorado). 
Como personagem histórica, Exu teria sido um dos companheiros de Odùduà, quando da sua chegada a Ifé, e chamava-se Èsù Obasin. Tornou-se, mais tarde, um dos assistentes de Orunmilá, que preside a adivinhação pelo sistema de Ifá. Segundo Epega, Exu tornou-se rei Kêto sob o nome de Èsù Alákétu. 
É Exu que supervisiona as atividades do mercado do rei em cada cidade: o de Oyó é chamado Èsù Akesan. 
Como orixá, diz-se que ele veio ao mundo com um porrete, chamado ogò, que teria a propriedade de transporta-lo, em algumas horas, a centenas de quilômetros e de atrair, por um poder magnético, objetos situados a distâncias igualmente grandes. 
Exu é o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas. É também ele que serve de intermediário entre os homens e os deuses. Por essa razão é que nada se faz sem ele e sem que oferendas lhe sejam feitas, antes e qualquer outro orixá, para neutralizar suas tendências a provocar mal-entendidos entre os seres humanos e em suas relações com os deuses e, até mesmo, dos deuses entre si.
Exu teve numerosas brigas com os outros orixás, nem sempre saindo vencedor. Certas lendas nos contam seus sucessos e seus reveses nas suas relações com Oxalá, ao qual fez passar alguns maus momentos, em vingança por não haver recebido certas oferendas, quando Oxalá foi enviado por Olodumaré, o deus supremo, para criar o mundo. Exu provocou-lhe uma sede tão intensa que Oxalá bebeu vinho de palma em excesso, com conseqüências desastrosas, como veremos. Teremos oportunidade, também, de ver como exu foi responsável pelos transtornos de que o mesmo Oxalá foi objeto quando certa vez foi visitar Xangô. 
Por outro lado, em lendas publicadas numa outra obra, narra-se que houve uma disputa entre Exu e o Grande Orixá, para saber qual dos dois era o mais antigo e, em conseqüência, o mais respeitável. Oxalá provou sua superioridade durante um combate cheio de peripécias, ao fim do qual ele apoderou-se da cabacinha que encerra o poder de Exu e Obaluaê, foi este último que saiu igualmente vencedor. 
O lado malfazejo de Exu é evidenciado nas seguintes histórias: 
Uma delas, bastante conhecida e da qual existem numerosas variações, conta como ele semeou discórdia entre dois amigos que estavam trabalhando em campos vizinhos. Ele colocou um boné vermelho e um lado e branco do outro e passou ao longo de um caminho que separava os dois campos. Ao fim de alguns instantes, um dos amigos fez alusão a um homem de boné vermelho; o outro retrucou que o boné era branco e o primeiro voltou a insistir, mantendo a sua afirmação; o segundo permaneceu firme na retificação. Como ambos eram de boa fé, apegavam-se a seus pontos de vista, sustentando-os com ardor e, logo depois, com cólera. Acabaram lutando corpo a corpo e mataram-se um ao outro. 
Uma outra lenda mostra Exu mais maquiavélico ainda. Ele foi procurar uma rainha abandonada já há algum tempo por seu marido e lhe disse: "Traga-me alguns fios da barba do rei e corte-os com esta faca. Eu lhe farei um amuleto que lhe trará de volta o seu marido". Em seguida, Exu foi à casa do filho da rainha, que era o príncipe herdeiro.Este vivia numa residência situada fora dos limites do palácio do rei. O costume assim o determinava, a fim de prevenir toda tentativa de assassinato de um soberano por um príncipe impaciente por subir ao trono. "O rei vai partir para guerra", disse-lhe ele, e pede o seu comparecimento esta noite ao palácio, acompanhada de seus guerreiros. Finalmente, Exu foi ao rei e disse-lhe: A rainha, magoada pela sua frieza, deseja mata-lo para se vingar. Cuidado, esta noite. E a noite veio. O rei deitou-se, fingiu dormir e viu, logo depois, a rainha aproximar um afaça de sua garganta. O que ela queria era cortar um fio da barba do rei, mas ele julgou que ela desejava assassiná-lo. O rei desarmou-a e ambos lutaram, fazendo grande algazarra. O príncipe, que chegava ao palácio com seus guerreiros, escutou grito nos aposentos do rei e correu para lá. Vendo o rei com a uma faca na mão, o príncipe pensou que ele queria matar sua mãe. Por seu lado, o rei, ao ver o filho penetrar nos seus aposentos, no meio da noite, armado e seguido por seus guerreiros, acreditou que eles desejavam assassina-lo. Gritou por socorro. A sua guarda acudiu e houve então uma grande luta, seguida de massacre generalizado. 
Uma história mais simples mostra a atividade de Exu na vida cotidiana: uma mulher se encontra no mercado vendendo os seus produtos. Exu põe fogo na sua casa, ela corre para lá, abandonando seu negócio. A mulher chega tarde, a casa está queimada e, durante esse tempo, um ladrão levou as suas mercadorias. 
Nada disso teria acontecido – nem os amigos teriam brigado, nem o rei e o príncipe teriam se massacrado, nem a vendedora teria se arruinado – se tivessem feito a Exu as oferendas e os sacrifícios usuais. 
O lugar consagrado a Exu entre os iorubás é constituído de um pedaço de pedra porosa, chamada Yangi, ou por um montículo de terra grosseiramente modelado na forma humana, com olhos, nariz e boca assinalados com búzios, ou então ele é representado por uma estátua, enfeitada com fieiras de búzios, tendo em suas mãos pequenas cabaças (àdó), contendo os pós por ele utilizados em seus trabalhos. Seus cabelos são presos numa longa trança, que cai para trás e forma, em cima, uma crista para esconder a lâmina de faca que lê tem no alto do crânio. Isso, por sinal, é dito em uma de suas saudações: 

Sónsó òbe kò lóri erù 


A lâmina (sobre a cabeça) é afiada, ele não tem (pois) cabeça para carregar fardos".

A Exu são oferecidos bodes e galos, pretos de preferência, e prato cozidos em azeite-de-dendê (epo), porém nunca se lhe deve oferecer o óleo branco (adi), que é extraído das amêndoas contidas nos caroços do dendê. Este àdí tem a reputação de ser "cheio de violência e de cólera". Dizem que uma boa maneira de se vingar de um inimigo consiste em derramar sobre a estátua de Exu esse óleo, fervendo de preferência, declarando em voz alta que essa oferenda é feita pela pessoa desprezada. Exu não deixaria então de lhe pregar uma peça! 
Os elégùn de Exu participam das cerimônias celebradas para os outros orixás.Alguns acompanham Xangô e traz nas costas uma tralha curiosa, onde se encontram, em desordem, duas ou três estatuetas de Exu, fieiras de búzios, pentes, espelhos e as indispensáveis cabacinhas àdó, contendo os elementos de seu poder. Outros, chamados olúpòna, participam das cerimônias que se realizam a cada quatro dias, para Ogum, na região de Holi. No decorrer de suas danças, trazem sempre na mão um ògo, bastão de forma fálica. 
Exu pode fazer coisas extraordinárias que se exprime nos seus oríkí, os louvores tradicionais: 
"Exu faz o erro virar acerto e o acerto virar erro". 
"É numa peneira que ele transporta o azeite que compra no mercado; e o azeite não escorre dessa estranha vasilha". 
"Ele matou um pássaro ontem, com uma pedra que somente hoje atirou. Se ele se zanga, pisa nessa pedra e ela põe-se a sangrar".
"Aborrecido, ele senta-se na pele de uma formiga".
"Sentado, sua cabeça bate no teto; de pé, não atinge nem mesmo a altura do fogareiro.
 
Légba 
Entre os fon do ex-Daomé, Èsù-Elégbára tem o nome de Légba. Ele é representado por um montículo de terra em forma de homem acocorado, ornado com um falo de tamanho respeitável. Esse detalhe deu motivo a observações escandalizadas, ou divertidas, de numerosos viajantes antigos e fizeram-no passar, erradamente, pelo deus da fornicação. Esse falo ereto nada mais é do que a afirmação de seu caráter truculento, atrevido e sem-vergonha e de seu desejo de chocar o decoro. 
Os Légba, guardiões dos templos de Hevioso, vodun do trovão, e de sapata, vodun equivalente a Sànpònná dos iorubás, manifestam-se através de légbasi, equivalentes a Olúpòna, durante as cerimônias celebradas para esse vodun. Os légbasi vestem-se com uma saia de ráfia tinturada de roxo e usam a tiracolo inúmeros colares de búzios. Debaixo da sua saia traz, disfarçado, um volumoso falo de madeira que levantam, de vez em quando, com mímicas eróticas. Além disso, têm na mão uma espécie de espanta-moscas, Roxo, semelhante a um espanador, no qual está escondido um bastão em forma de falo, que eles agitam, de maneira engraçada, na cara das pessoas presentes, particularmente sob o nariz dos turistas, pois os légbasi não deixam de observar seus sentimentos ambivalente diante dessas exibições. 
 
Exu no Novo Mundo 

No Brasil, como em Cuba, Exu foi sincretizado com o Diabo. Não inspira, porém, grande terror, pois sabe-se que, quando tratado convenientemente, ele trabalha para o bem, quer dizer, pode ser enviado para fazer mal às pessoas más ou àquelas que nos prejudicam ou, ainda, àquelas que nos causam ressentimentos. 
Chamam-no, familiarmente, o "Compadre" ou o "Homem das Encruzilhadas", pois é nesses lugares que se depositam, de preferência, as oferendas que lhe são destinadas. 
Poucas pessoas lhe são abertamente consagradas em razão desse suposto sincretismo com o Diabo. A tendência, logo que ele se manifesta, é de acalma-lo, de fixa-lo, oferecendo-lhe sacrifícios e procedendo à iniciação da pessoa interessada em proveito de seu irmão Ogum, com o qual Exu divide um caráter violento e arrebatado. 
O lugar consagrado a Exu é, geralmente, ao ar livre ou no interior de uma pequena choupana isolada ou, ainda, atrás da porta da casa. É simbolizado por um tridente de ferro, plantado sobre um montículo de terra e, algumas vezes, por uma imagem, igualmente de ferro, representando o Diabo Brandindo o tridente. 
A segunda-feira é o dia da semana consagrado a ele. As pessoas que procuram a sua proteção usam colares de contas pretas e vermelhas. As oferendas, de animais e comida, como na áfrica, são-lhe apresentadas antes das dos outros orixás. 
Diz-se na Bahia que existem vinte e um Exus, segundo uns, e apenas sete, segundo outros. Alguns dos seus nomes podem passar por apelidos, outros parecem ser letras dos cânticos ou fórmulas de louvores. Eis alguns: Exu-Elegbá ou Exu-Elegbará e seus possíveis derivados: Exu-Bará ou Exu- Ibará, Exu-Alaketo, Exu-Laalu, Exu-Jeto, Exu-Akessan, Exu-Loná, Exu-Agbô, Exu-Larôye, Exu- Inan, Exu-Odora, Exu-Tiriri. 
Assinalamos anteriormente que, antes de realizar o xirê dos orixás, faz-se, na Bahia, o padê, palavra que, como vimos, significa em iorubá encontro ou reunião, durante a qual Exu é chamado, saudado, cumprimentado e enviado ao além com uma dupla intenção: convocar os outros deuses para a festa e, ao mesmo tempo, afasta-lo para que não perturbe a boa ordem da cerimônia com um dos seus golpes de mau gosto. 

Arquétipo 

O arquétipo de Exu é muito comum em nossa sociedade, onde proliferam pessoas com caráter ambivalente, ao mesmo tempo boas e más, porém com inclinação para a maldade, o desatino, a obscenidade, a depravação e a corrupção. Pessoas que têm a arte de inspirar confiança e dela abusar, mas que apresentam, em contrapartida, a faculdade de inteligente compreensão dos problemas dos outros e a de dar ponderados conselhos, com tanto mais zelo quanto maior a recompensa esperada. As cogitações intelectuais enganadoras e as intrigas políticas lhes convêm particularmente e são, para elas, garantias de sucesso na vida

Esse texto foi retirado do livro: "Orixás" de Pierre Fatumbí Verger

Oyá / Iansã

OIÁ-IANSÃ (OYA YÁNSÀN) 

Oya Yánsàn na África 

Oya (Oiá) é a divindade dos ventos, das tempestades e do rio Níger que, em iorubá, chama-se Odò 
Oya. Foi a primeira mulher de Xangô e tinha um temperamento ardente e impetuoso. Conta uma lenda que Xangô enviou-a em missão na terra dos baribas, a fim de buscar um preparado que, uma vez ingerido, lhe permitiria lançar fogo e chamas pela boca e pelo nariz. Oiá, desobedecendo às instruções do esposo, experimentou esse preparado, tornando-se também capaz de cuspir fogo, para grande desgosto de Xangô, que desejava guardar só para si esse terrível poder. 
Oiá foi, no entanto, a única das mulheres de Xangô que, ao final do seu reinado, segui-o na sua fuga para Tapa. E, quando Xangô recolheu-se para baixo da terra em Kossô, ela fez o mesmo em Irá. 
Antes de se mulher de Xangô, Oiá tinha vivido com Ogum. Vimos, em capítulos precedentes, como a aparência do deus do ferro e dos ferreiros causou-lhe menos efeito que a elegância, o garbo e o brilho do deus do travão. Ela fugiu com Xangô, e Ogum, enfurecido, resolveu enfrentar o seu rival; mas este último foi à procura de Olodumaré, o deus supremo, para lhe confessar que perdoasse a afronta. E explicou-lhe: "Você, Ogum, é mais velho do que Xangô! Se, como mais velho, deseja preservar sua dignidade aos olhos de Xangô e aos outros orixás, você não deve se aborrecer nem brigar; deve renunciar a Oiá sem recriminações". Mas Ogum não foi sensível a esse apelo, dirigido aos sentimentos de indulgência. Não se resignou tão calmamente assim, lançou-se à perseguição dos fugitivos e, como vimos anteriormente, trocou golpes de varas mágicas com a mulher infiel. Que foi então, dividida em nove partes. Este números 9, ligado a Oiá, está na origem de seu nome Iansã e encontramos esta referência no ex-Daomé, onde o culto de Oiá é feito em Porto Novo sob o nome de Avesan, no bairro Akron ( Lokoro dos Iorubás) e sob o de Abesan, mais ao norte em Baningbê. Esses nomes teriam por origem a expressão Aborimesan ("com nove cabeça"), alusão aos supostos nove braços do delta do Níger. 
Uma outra indicação da origem desse nome nos é dada pela lenda da criação da roupa de Egúngún por Oiá. Roupas sob as quais, em certas circunstâncias, os mortos de uma família voltam a terra a fim de saudar seus descentes. Oiá é o único orixá capaz de enfrentar e de dominar os Egúngún. 
Oiá lamentava-se de não ter filhos. Esta triste situação era conseqüência da ignorância a respeito das suas proibições alimentares. Embora a carne de cabra lhe fosse recomenda, ela comia a de carneiro. 
Oiá consultou um babalaô, que lhe revelou o seu erro, aconselhando-a a fazer oferendas, entre as quais deveria haver um tecido vermelho. Este pano, mais tarde, haveria de servir para confeccionar as vestimentas dos Egúngún. Tendo cumprido essa obrigação, Oiá tornou-se mãe de nove crianças, o que se exprime em iorubá pela frase: "Iyám mésàn, Origem de seu nome Iansã. 
Quanto ao seu outro nome Oya, há uma lenda que faz alusão à sua origem explicando-a por um jogo de palavras. Nela se conta "como uma cidade chamada Ipô esta ameaçada de destruição, invadida pelos guerreiros tapás. Para preserva-la foi feita uma oferenda das roupas do rei dos ipôs. Esse traje era de tal beleza que as galinhas do lugar puseram-se a cacarejar de surpresa – razão pela qual, diz-se gravemente na lenda, as galinhas cacarejam até hoje, sempre estão em presença de qualquer coisa estranha. Esse prestigioso traje foi rasgado (ya) em dois para servir para servir de almofada de apoio às cabaças de oferendas. Apareceu então, misteriosamente, uma água que se espalhou (ya), inundando os arredores da cidade e afogando os agressores tapas. Quando os habitantes de Ipô procuraram um nome para este rio que surgiu e se espalhou, ya, quando as roupas foram rasgadas, ya, decidiram chamá-lo Odò Oya. 
Existe uma lenda, conhecida na África e no Brasil, que explica de que maneira os chifres de búfalo vieram a ser utilizados no ritual do culto de Oiá-Iansã: 
"Ogum foi caçar na floresta. Colocando-se à espreita, percebeu um búfalo que vinha em sua direção. Preparava-se para mata-lo quando o animal, parando subitamente, retirou sua pele. Uma linda mulher apareceu diante de seus olhos. Era Oiá-Iansã. Ela escondeu a pele formigueiro e dirigiu-se ao mercado da cidade vizinha. Ogum apossou-se do despojo, escondendo-o no fundo de uma depósito de milho, ao lado de sua casa, indo, em seguida, ao mercado fazer a corte à mulher-búfalo. Ele chegou a pedi-la em casamento, mas Oiá recusou inicialmente. Entretanto, ela acabou aceitou, quando, de volta à floresta, não mais achou a sua pele. Oiá recomendou ao caçador não contar a ninguém que, na realidade, ela era um animal. Viveram bem durante alguns anos. Ela teve nove crianças, o que provocou o ciúme das outras esposas de Ogum. Estas, porém, conseguiram descobrir o segredo da aparição da nova mulher. Logo que o marido se ausentou, elas começaram a cantor: " Máa je, máa um, àwò re nbe nínú àká", Você Pode beber e comer (e exibir sua beleza), mas a sua pele está no deposito (você é um animal). 
"Oiá compreendeu a alusão; encontrando a sua pele, vestiu-a e voltando à forma de búfalo, matou as mulheres ciumentas. Em seguida, deixaram os seus chifres com os filhos, dizendo-lhes: Em caso de necessidade, batam um contra o outro, e eu virei imediatamente em vosso socorro. É por essa razão que chifres de búfalos são sempre colocados nos locais consagrados a Oiá-Iansã". 
Tivemos oportunidade de ouvir essa história na Bahia, narrada por Pai Cosme, um Velho pai-de-santo, hoje falecido. Ele pronunciava com perfeita correção a frase iorubá citada acima.
Os oríkì dirigidos a Iansã descrevem-na bastante bem:
"Oiá, mulher corajosa que, os acordar, empunhou um sabre".
Oiá, mulher de Xangô.
Oiá, cujo marido é vermelho.
Oiá, que embeleza seus pés com pó vermelho.
Oiá, que morre corajosamente com seu marido.Oiá, vento da morte.
Oiá, ventania que balança as folhas das árvores por toda parte.
Oiá, a única que pode segurar os chifres de um búfalo".

Oiá-Iansã no Novo Mundo 

As pessoas dedicadas a Iansã, nome sob o qual ela é mais conhecida no Brasil, usam colares de contas de vidro grená. A quarta-feira é o dia da semana consagrado a ela, o mesmo dia de Xangô, seu marido. Seus símbolos são como na África: os chifres de búfalo e um alfanje, colocados sobre seu "pejí". Ela recebe sacrifícios de cabras e oferendas de acarajés (àkàrà na África). Ela detesta abóbora e a carne de carneiro lhe é proibida. 
Quando se manifesta sobre um dos iniciados, ela está adornada com uma coroa semelhante à dos reis africanos , cujas franjas de contas escondem o seu rosto. Ela traz um alfanje em uma das mãos e um espanta-moscas feito de cauda de cavalo na outra. Suas danças são guerreiras e, se Ogum está presente, ela se engaia num duelo com ele, lembrança, sem dúvida, de suas antigas divergências. Ela evoca também, através de seus movimentos sinuosos e rápidos, as tempestades e os ventos enfurecidos. Seus fiéis saúdam-na gritando: " Epa Heyi Oya!". 
No Brasil, Oia é sincretizada com Santa Bárbara e, em Cuba, com Nuestra Señona de la Candelária. 
Certa Iansãs, chamadas Yánsàn de Igbalè, ligadas ao culto dos mortos, os Egúngún, quando dançam 
parecem expulsar as almas errantes com seus braços largamente abertos e estendidos para a frente. 

Arquétipo 

O arquétipo de Oiá-Iansã é o das mulheres audaciosas, poderosas e autoritárias. Mulheres que podem ser fiéis e de lealdade absoluta em certas circunstâncias, mas que, em outros momentos, quando contrariadas em seus projetos e empreendimentos, deixam-se levar a manifestações a mais extrema cólera. Mulheres, enfim, cujo temperamento sensual e voluptuoso pode leva-las a aventuras amorosas extraconjugais múltiplas e freqüentes, sem reserva nem decências, o que não as impede de continuarem muito ciumentas dos seus maridos, por elas mesmas enganados.

Esse texto foi retirado do livro: "Orixás" de Pierre Fatumbí Verger

Xangô

XANGÔ (SÀNGÓ) 

Sàngó na África 

Xangô, como todos os outros imolè (orixás e ebora), pode ser descrito sob dois aspectos: histórico e divino. 
Como personagem histórico, Xangô teria sido o terceiro Aláàfìn Òyó, "Rei de Oyó", filho de Oranian e Torosi, a filha de Elempê, rei dos tapás, aquele que havia firmado uma aliança com Oranian. Xangô cresceu no país de sua mãe, indo instalar-se, mais tarde, emK òso (Kossô), onde os habitantes não o aceitam por causa de seu caráter violento e imperioso; mas ele conseguiu, finalmente, impor-se pela força. Em seguida, acompanhado pelo seu povo, dirigiu-se para Oyó, onde estabeleceu um bairro que recebeu o nome de Kossô. Conservou, assim, seu título de Oba Kòso, que, com o passar do tempo, veio a fazer parte de seusoríkì. 
Dadá-Ajaká, filho mais velho de Oranian, irmão consangüíneo de Xangô, reinava então em Oyó. Dadá é o nome dado pelos iorubas às crianças cujos cabelos crescem em tufos que se frisam separadamente. "Ele amava as crianças, a beleza das artes; de caráter calmo e pacífico... e não tinha a energia que se exigia de um verdadeiro chefe dessa época". Xangô o destronou e Dadá-Ajaká exilou- se em Igboho, durante sete anos de reinado de seu meio-irmão. Teve que se contentar, então, em usar uma coroa feita de búzios, chamadaadé debaàyàni. Depois que Xangô deixou Oyó, Dadá-Ajaká voltou a reinar. Em contraste com a primeira vez, ele se mostrou agora valente guerreiro, voltou-se contra os parentes da família materna de Xangô, atacando os tapás. 
Frobenius pensava que houvesse dois Xangôs de origens diferentes: o mais velho seria Sàngó-Tápà,
de origem nupê (um outro nome que designa os tapas), tendo o carneiro como símbolo; o mais novo
seria Sàngó-Mési, de origem borgu (bariba), representado por um guerreiro montado a cavalo. Porém, parece que Frobenius interpretou mal o que poderia lhe ter sido dito, pois, se seuàngó-Tápà
corresponde a Xangô, terceiro Aláàfìn Oyo, nascido em território tapa, Sàngó-Mési pertencia a uma
época posterior ao seu reino. O que poderia ter provocado o erro de Frobenius é, de um lado, o fato de
que existiam os Oyo Mési, os sete conselheiros principais deAláàfìn Oyo ("fazedores de reis"), e, por
outro lado, o povo de Oyó tornou-se famoso por sua cavalaria, organizada quatro reinos depois de
Ajaká, na época do Aláàfìn Onìgbogi, o que não, impediu, entretanto, que suas tropas fossem batidas
pelos tapas, com os quais as relações estavam tensas desde a morte de Xangô. Aláàfìn Onìgbogi teve
que fugir para Gberê, em território bariba, onde ficou em exílio, como, alias, seu sucessor. Mais tarde, quatro outros Aláàfìn sucessivos viveram em Igboho, perto do território bariba. 
Esse acontecimentos históricos, posteriores ao reinado de Xangô, puderam fazer crer na existência de um Sàngó-Mési-Bariba, quando, na realidade, tratava de três sucessores em exílio. 
Xangô, no seu aspecto divino, permanece filho de Oranian, divinizado, porém, tendo Yamase como mãe e três divindades como esposas: Oiá, Oxum e Oba. 
Xangô é viril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitosos. Por esse motivo, a morte pelo raio é considerada infamante. Da mesma forma uma casa atingida pelo raio é uma casa marcada pela cólera de Xangô. O proprietário deve pagar pesadas multas aos sacerdotes do orixá que vem procurar nos escombros os edùn àrá (pedras de raio) lançados por Xangô e profundamente enterrados no local onde o solo foi atingido. 
Esses edùn àrá (na realidade, machados neolíticos) são colocados sobre um pilão de madeira esculpida (odó), consagrado a Xangô. Tais pedras são consideradas emanações de Xangô e contêm o seu àse, o seu poder. O sangue dos animais sacrificados é derramado, em parte, sobre suas pedras de raio para manter-lhes a força e o poder. O carneiro, cuja chifrada tem a rapidez do raio; é o animal cujo sacrifício mais lhe convém. Fazem-lhe também oferendas deam alá, iguaria preparada com farinha de inhame regada com um molho feito com quiabos. É, no entanto, formalmente proibido oferecer-lhe feijões brancos de espécie sèsé. Todas as pessoas que lhe são consagradas estão sujeitas à mesma proibição. 
O símbolo de Xangô é o machado de duas laminas estilizado, osé (oxé), que seus elégùn trazem nas mãos quando em transe. Lembra o símbolo de Zeus em Creta. 
Esse oxé parece ser a estilização de um personagem carregando o fogo sobre a cabeça; este fogo é, ao mesmo tempo, o duplo machado e lembra, de certa forma, a cerimônia chamadaajere, na qual os iniciados de Xangô devem carregar na cabeça uma jarra cheia de furos, dentro da qual queima um fogo vivo. Eles não se sentem incomodados por este fardo ardente, demonstrando, através desta prova, que o transe não é simulado. 
Os iniciados passam, em seguida, por uma outra prova, chamadaàkàrà, durante qual engolem mechas de algodão embebidas em azeite-de-dendê em combustão. É uma referência à lenda, segundo a qual Xangô tinha o poder de escarrar fogo graças a um talismã que ele mandara Oiá-Iansã buscar no território bariba. 
Os adeptos de Xangô seguram nas mãos um instrumento musical utilizado apenas por eles, o sere (xerê), feito de uma cabaça alongada e contendo no seu interior pequenos grãos. Convenientemente sacudido durante a recitação dos louvores de Xangô, esse instrumento imita o ruído da chuva. Algumas vezes, oselégùn usam também, a tiracolo, um làbà (uma bolsa grande em couro ornamentado), no qual Xangô guardaria seus edùn àrá, que se lança sobre a terra durante as tempestades. 
Tambores de uma forma particular, chamadosbà tá, do qual falaremos ainda adiante, são utilizados para acompanhar as danças. 
Um testemunho da elegância, do garbo de Xangô e das suas maneiras galantes, com as quais seduziu 
Oiá-Iansã, a mulher de Ogum, é dado numa história do Ifá já mencionada num capítulo precedente: 
"Entre os clientes de Ogum, o ferreiro, havia Xangô",que gostava de ser elegante,
a ponto de trançar seus cabelos como os de uma mulher.
Havia feito furos nos lóbulos de suas orelhas,
onde usava sempre argolas.
Ele usava colares de contas.
Ele usava braceletes.
Que elegância!!!
Esse homem era igualmente poderoso por seus talismãs.
Era guerreiro por profissão.
Não fazia prisioneiros no decurso de suas batalhas
(matava todos os seus inimigos).
Por essa razão, Xangô é saudado:
Rei de Kossô, que age com independência!"
Outras saudações que seus fies lhe dirigem têm certa graça e mostram a sua forte personalidade:
"Ele ri quando vai à casa de Oxum.
Ele fica bastante tempo em casa de Oiá.
Ele usa um grande pano vermelho.
Oh! Elefante que caminha com dignidade!
Meu senhor, que cozinha o inhame
com ar que escapa de suas narinas.
Meu senhor, que mata seis pessoas com uma só pedra de raio.
Se franze o nariz, o mentiroso tem medo e foge".
Xangô é o irmão mais jovem, não somente de Dadá-Ajaká como também de Obaluaê. Entretanto, ao que parece, não são os vínculos de parentesco que permitem explicar a ligação do deus do trovão e o das doenças contagiosas, mas sim, prováveis origens comuns em Tapá. Neste lugar, Obaluaê seria mais antigo que Xangô, e, por deferência para com o mais velho, em certas cidades como Saketê e Ifanhim são sempre feitas oferendas a Obaluaê na véspera da celebração das cerimônias para Xangô. 

Cerimônias de Xangô 

As cerimônias que descrevemos, precedidas de sacrifícios e oferendas, foram organizadas em Saketê e Ifanhim pelos egbe Sàngó desses lugares em honra ao seu orixá. Esses egbe (sociedades) comportam centenas de membros, na sua maioria elégùn, que representam cada um deles, dentro do Egbe (organização central), uma das numerosas famílias, cada uma delas tem seu lugar de adoração em uma das roças da redondeza dessas cidades. Quando uma dessas famílias organiza uma cerimônia de oferendas ao seu Xangô particular, os membros do egbe vem todos participar da festa. No fim da colheita realiza-se, nessas regiões, uma série ininterrupta de festejos dos quais participam todos os membros do egbe. Trata-se de reuniões onde eles invocam a presença de Xangô, cantam e dançam alegremente com ele. 
Essas comemorações têm a duração de cinco, nove ou dezessete dias. Elas começam e terminam sempre num ijo jàkúta, o dia dedicado a Xangô, da semana ioruba de quatro dias. Como na cerimônia de iniciação, o começo dessas festas deve estar o mais próximo possível do primeiro quarto da lua. 
Na noite da véspera realiza-se aàìsùn ("não dormir"). Em Saketê isso se passa numa grande praça, diante do templo de Xangô, onde oselégùn vão dançar no dia seguinte ao som dos atabaquesbata. O templo é uma pequena casa de dois compartimentos, que se distingue das casas vizinhas apenas pelo símbolo de Xangô, o osé, instalado na cumeeira. 
Os dignitários do egbeSàngó reúnem-se no primeiro compartimento: Mogbà Sàngó, Iyá Sàngó (Iyá egbe), Bale Sàngó, Arupe, Setiki, Jagujagun, Babá egbe, Asoju Oba, Esinla, etc. No segundocompartimento, encontra-se oodó, o pilão de Xangô, emborcado no chão. Em cima dele, coloca-se uma gamela contendo os èdùn àrá, as pedras de raio, e encostados em sua base estão os osé (oxés) e os sere (xerés). Na parede do fundo, estão pendurados oslàbà de couro de que falamos anteriormente. 
Os membros do egbe Sàngó chegam em pequenos grupos durante a noite, vindo das roças e das aldeias dos arredores. Oselégùn Sàngó, tanto homens como mulheres, têm os cabelos trançados, numa série de linhas paralelas que vão da testa até a nuca, onde formam uma franja mais ou menos comprida. Para demonstrar sua situação de "iaôs" usam as mesmas vestimentas femininas,bùbá, uma blusa, e aso, um pano usado como saia. Para os homens, isso não implica uma perversão ou disfarce, mas uma maneira de demonstrar sua dependência ao deus. 
Cada um dos membros do egbe Sàngó ao chegar vai prostrar-se diante das pedras de raio colocadas sobreodó. Essa profunda saudação, dobále, se faz com uma dignidade e uma graça que a civilização moderna dos ocidentais perdeu completamente. Essas inclinações são feitas com leveza, facilidade e naturalidade: o corpo, lentamente dobrando, repousa um momento no chão, sem medo de se sujar. A terra é, sucessivamente roçada coma testa, o queixo e os lábios. Essas saudações são acompanhadas pelo som dos "xerés", agitados pelos mogbà e peloselégùn já presentes. A noite se passa em troca de cumprimentos, comentários sobre os acontecimentos surgidos desde a ultima reunião, a comer e beber alegremente e a dançar, ao som dos atabaquesbat a, à volta da árvore situada no meio da praça. 
Na manhã do primeiro dia, que coincide com ijo jàkútà, do qual já falamos anteriormente, os membros do egbe descem ao riacho sagrado, a nlo odò ("vamos ao riacho"). O cortejo normalmente é precedido por umelégù n de Exu Elegbará, seguido por uma mulher que carrega umas cabaças contendo oferendas de noz de cola e de álcool, para o riacho. Chegando a beira d’água, os membros do egbe dão ostra de um espírito folgazão, de acordo com o caráter de Xangô, e pode acontecer que umel égùn macho vá banhar-se sozinho, enquanto as mulheres cantam chistosamente: 
"Okó nlá ba ojú omi je" 
("Um grande pênis perturba a superfície da água".).
Quando o elégùn sai a água, as mulheres vão banhar-se por sua vez cantando ousadamente: 
"Okó nse bálabàla. Gbòòrò gbòòrò okó. Gbándú gbándú òbò". 
("O pênis é viscoso. Comprido é o pênis. Larga é vagina".).
São apenas ditos engraçados e alegres, que a moral de forma alguma atinge.
Em seguida, é a volta ao tempo, onde a água, trazida do riacho na cabaça, é colocada diante doodó.
As danças dosel égùn têm inicio no começo da tarde. Eles fazem evoluções pela praça, ao redor da arvore, junto a qual estão instalados os três tocadores debata. Os homens e mulheres formam grupos separados; os primeiros na parte exterior da roda, e as mulheres na parte inferior. Suas danças seguem o ritmo dos atabaques que batem lentamente no começo e depois mais depressa. As mulheres dançam, a pequenos passos, batendo com os pés, o corpo inclinado para frente e os braços caídos molemente. De vez em quando, elas levantam ligeiramente o busto e inclinam-se de novo. Os homens dançam a passos mais largos e deslizantes, inclinando e levantando o corpo com mais energia; os braços leves erguem-se por momentos com as mãos juntas, costa com costa acima da cabeça; em seguida separam- se, e os braços descem violentamente, indo estalar sobre o tronco. Todos os movimentos são executados peloselégùn ao mesmo tempo, formando um conjunto perfeito. De vez em quando, executam passos mais acrobáticos, acocoram-se e levantam novamente, rodopiando e marcando um compasso de parada nos momentos precisos, indicados pelos pelo ritmo dos atabaquesbata. O ritmo produzido por eles é muito peculiar: nervoso e num tom agudo, seco e breve, que contribui para dar às danças dosel égùn um caráter vivo e arrebatador, que estimula os espectadores a marcarem a cadência com palmas. 
Pelo fim da tarde, quando a animação é geral, realiza-se o sacrifício de um carneiro no templo de Xangô. Derramam-se seu sangue nas pedras de raio. A cabeça do animal é cortada. 
Ìyá Sàngó, acompanhada por um grupo de mulheres, segura a cabeça cortada e, balançando-a da direita par a esquerda, dá volta em torno da praça, passando entre os grupos deelégùn, até o momento em que Xangô, proclamado sua aceitação à oferenda, apossa-se de um deles. Um sóelégùn é escolhido por Xangô entre os numerosos iniciados, que estão todos suscetíveis a serem por ele possuído. Oelégùn eleito, homem ou mulher, tornando-se Xangô, toma a cabeça do carneiro sacrificado, aproxima-a de sua boca, para lamber-lhe o sangue. A entrada em transe é muitas vezes violenta e oelégùn debate-se entre os braços de seus companheiros que os sustentam e arrastam-no para o templo. 
Reina um grande entusiasmo na multidão e entre oselégùn, que se põem a girar, correndo ao redor da praça, saltando e girando: 
"Sàngó dé! Sàngó dé!! 
Káwóó Kábiyèsi!" 
["Xangô esta chegando!! 
Venham ver (e admirar) o Rei!"] 
O elégùn possuído sai pouco depois do templo, já calmo e vestido com o traje tradicional de Xangô. Este traje pode ser descrito como uma espécie de grande avental (bànte) feito com pele de carneiro, coberto de búzios e passando sobre uma porção de xales (ìyèrì) amarrados na cintura e caindo livremente. É Xangô de volta a terra. Traz nas mãos um ou dois osé. Avança lenta e majestosamente através da multidão, que se inclina a sua passagem. Em sinal de benção, ao passar, ele impõe o osé nas costas curvadas. Seguido por um grupo deel égùn, Xangô dança ao redor da praça, saudando os atabaques ao passar por eles, agitando seu osé e gritando de vez em quando, com uma voz estridente: 
"O kúoooo! O kúoooo!" 
("Bom dia! Bom dia!") 
Os admiradores de Xangô vêm colar dinheiro sobre sua testa molhada de suor e ele agradece-lhes gritando:
"O se un o! O se un ooo!!!"
("Obrigado! Obrigado!")
Oelégùn permanecerá possuído por Xangô durante cinco, nove ou dezessete dias, duração da cerimônia, mas não permanecerá constantemente comportando-se dessa maneira. O estado de exaltação e de veemência enérgicas e autoritárias que Xangô impõe ao seuelégùn é substituído por um estado de langor, de abatimento e sonolência, durante o qual se entrega a atos de caráter infantil, dito na região ioruba tinu erudé ["chegado (em seguida) com as bagagens"]. 
A atitude dos que tomam conta dele muda também: respeitosa e temerosa, quando oelégùn está possuído por Xangô, torna-se divertida e zombeteira quando ele passa ao outro estágio. Eles descrevem-no dizendo: 
"Ose bi asiwère". 
("Ele porta-se como um louco".) 
Durante os cinco, nove ou dezessete dias que dura a possessão doelégùn, ele fica sujeito a essas duas espécies de comportamento. Ele "é Xangô! Por várias vezes, particularmente nos momentos de suas aparições em público". 
No programa das atividades, consta em geral uma visita ao mercado, aonde Xangô vai para ser admirado, antes de ir fazer uma visita ao rei do lugar. Tivemos oportunidades de vê-lo entrar nobremente no palácio real Saketê, brandindo seus osé, e sentar-se majestosamente no próprio divã do rei que, por respeito, permanecia de pé em sua presença e o saudava com a cortesia reservada aos mais nobres estrangeiros que por ali passavam. 
Há, entretanto uma exceção a essa regra: é em Oyó, onde Xangô foi rei antigamente. Oelégùn não pode entrar no palácio ocupado pelo atual Aláàfìn Oyo, seu descendente. Este não deve inclinar-se diante de ninguém, por ser ele o Aláyéluw a ("Rei Todo-Poderoso"), devendo, pois, evitar receber seu antepassado em seu próprio palácio. 
Quando a festa termina, oelégùn é levado ao templo de Xangô, onde suas roupas são retiradas. Deitam-no em seguida do lado esquerdo e cobrem-no com um pano que é levantado e agitado para arejar o seu corpo inerte. Ìyá Sàngó passa sobre ele o pano, da cabeça aos pés, e fustiga-o com ele, chamando-o pelo seu nome. Ao terceiro apelo oelégùn levanta-se e senta-se com ar surpreso. Indaga sobre o que passou e por que ele encontra-se sentado, seminu, no templo de Xangô. É tranqüilizado e coloca-se diante dele um eko (pasta de milho) sobre a qual se derrama água. Oelégùn, com as mãosnas costas, inclina-se e engole a pasta de milho; depois ele encosta seu rosto no chão, de um lado e depois do outro, para acalmar Xangô, e levanta-se. Alguém toca com a palma da mão o lugar úmido onde estava o eko e cobre-o de terra para apagar o rastro. Oelégùn inclina-se diante da Ìyá Sàngó, Mogbà e os outros dignitários e vai se sentar num canto, com ar perdido e incerto, até reencontrar sua personalidade antiga, algumas horas mais tarde. 

Xangô no novo mundo 

O culto de Xangô é muito popular no Novo Mundo, tanto no Brasil como nas Antilhas. No Recife, seu nome serve mesmo para designar o conjunto de cultos africanos praticados no Estado de Pernambuco. 
Na Bahia, seus fiéis usam colares de contas vermelhas e brancas, como na África. Quarta-feira é o dia da semana consagrado a ele. Assim que Xangô aparece manifestado em um de seus iniciados, as pessoas o saúdam, gritando: 
"Kawó-kabiyèsíle!!" 
("Venham ver o Rei descer sobre a Terra!!") 
Os tambores bata não são conhecidos no Brasil, embora ainda o sejam em Cuba, mas os ritmos batidos para Xangô são os mesmos. São ritmos vivos e guerreiros, chamados tonibobé e alujá, e são acompanhados pelos ruídos dos "xerés", agitados em uníssono. 
No decurso de suas danças, Xangô brande orgulhosamente seu "oxé" e assim que a cadência se acelera ele faz o gesto de quem vai pegar num "labá" imaginário, as pedras de raio, e lança-las sobre a terra. O simbolismo de sua dança deixa, a seguir, aparecer seu lado licencioso e atrevido. 
No decorrer de certas festas, Xangô aparece frente a assistência, trazendo sobre a cabeça um "ajerê" contendo fogo e começa a engolir, como na África, mechas de algodão inflamadas. 
Na Bahia, diz-se que existem doze Xangô: Dadá, Oba Afonjá; Obalubé; Ogodô; Oba Kossô; Jakutá; 
Aganjú; Baru; Oranian; Airá Intilé, Airá Igbonam, e Airá Adjaosi. 
Reina uma certa confusão nesta lista, pois Dadá é irmão de Xangô; Oranian é seu pai, e Aganju, um de seus sucessores. Também na Bahia acredita-se que Ogodô é originário do território tapá, e que segura dois "oxés" quando dança, sendo o seu edùn àrá composto de dois gumes. Os Airá seriam Xangôs muito velhos, sempre vestidos de branco e usando contas azuis (segi) em lugar de corais vermelhos, como os outros Xangôs. Ao que parece, teriam vindo da região de Savê. 
Xangô foi sincretizado com São Jerônimo no Brasil e com Santa Bárbara em Cuba. Já assinalamos, anteriormente, o caráter estranho de semelhantes escolhas. 
Na Bahia, quando uma festa é celebrada em honra de Dadá, irmão mais velho de Xangô, a cerimônia toma aspecto de comemoração histórica, sem que os participantes saibam, muitas vezes, a história dos iorubás. O "iaô" de Dadá vem dançar frente à assistência, tendo na cabeça uma coroa, "o adê de baiani". Logo depois, Xangô, possuindo um de seus iniciados, toma a coroa, colocando-a sobre sua própria cabeça. Após ter dançado assim adornado, por um certo tempo, a coroa é restituída a Dadá. 
Esse elemento do ritual parece ser uma reconstituição do destronamento de Dadá-Akajá por Xangô e sua volta ao poder sete anos mais tarde. 

Arquétipo 

O arquétipo de Xangô é aquele das pessoas voluntariosas e enérgicas, altivas e conscientes de sua importância real ou suposta. Das pessoas que podem ser grandes senhores, corteses, mas que não toleram a menor contradição, e, nesses casos, deixam-se possuir por crises de cólera, violentas e incontroláveis. Das pessoas sensíveis ao charme do sexo oposto e que se conduzem com o tato e encanto no decurso das reuniões sociais, mas que podem perder o controle e ultrapassar os limites da decência. Enfim, o arquétipo de Xangô é aquele das pessoas que possuem um elevado sentido da sua própria dignidade e das suas obrigações, o que as leva a se comportarem com um misto de severidade e benevolência, segundo o humor do momento, mas sabendo aguardar, geralmente, um profundo e constante sentimento de justiça. 

Esse texto foi retirado do livro "Orixás" de Pierre Fatumbí Verge

Orixás
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